Em declaração política, Rui Semedo destacou que temos em Cabo Verde um povo a quem foi testada toda a sua capacidade de resiliência e de resistência e que durante este ano atingiu o limite da sua possibilidade de aguentar os sacrifícios.
“É a seca cujos efeitos insistiram em nos perseguir, com toda a sua fúria e dureza, é a pandemia que que sacudiu todas as nossas ancoras, desamparou famílias e desestruturou empresas e é a guerra que veio guindar os preços para cume das montanhas das nossas vidas e afundar o poder de compra para níveis rasantes”, salientou Semedo.
“Para piorar as coisas, ainda mais, tivemos que enfrentar a crise de um governo gordo, despesista e gastador, ineficiente e insensível e desconectado com a realidade e o sentimento das pessoas”, completou.
Para este partido da oposição, o Governo não esteve à altura de estruturar medidas para aliviar ou impedir que as pessoas sofressem de forma tão pesada os efeitos da crise.
“As pessoas viveram em grandes dificuldades, o nível da pobreza aumentou, a taxa de desemprego disparou para níveis incomportáveis, o desemprego jovem subiu para níveis máximos, os preços dos produtos elevaram-se para patamares altíssimos e viver com dignidade passou a ser uma miragem”, continuou.
Segundo a mesma fonte, as respostas do governo perante estas situações desesperantes do povo foram mais na perspetiva da intensificação da propaganda e a exploração do marketing como instrumentos para anestesiar as pessoas e vender uma realidade falsa.
Setor primário abandonado e carreiras profissionais estagnadas
Denunciou que a agricultura não mereceu a devida atenção, a água continua a escassear, tanto para o consumo das famílias como para a atividade agrícola, e as promessas da sua disponibilização não estão a sair do papel.
«A pesca continua a ser um parente pobre e durante este ano não registou nenhum investimento público para melhorar o desempenho do sector. A economia marítima, no seu todo, parece estar à espera de melhores dias com oportunidades perdidas, investimentos adiados e potencialidades desaproveitadas», enumerou.
Criticou que as respostas às exigências de normalização das diversas carreiras profissionais continuam a ser adiadas com impactos negativos na motivação de várias categorias profissionais.
Administração Pública partidarizada
Prosseguindo no seu balanço do ano político, Semedo referiu que o país continuou a ter muitos desperdícios em termos de recursos humanos, recursos materiais e recursos Financeiros no meio de muita intransparência na gestão dos recursos públicos.
«A Administração Pública foi posta a jeito para uma desmedida e descarada partidarização, onde cargos são desenhados para servir interesses e apetites partidários em detrimento da busca da eficiência e da eficácia do Estado que deveria estar focado na missão de servir os cabo-verdianos, com respeito com igualdade, com dignidade e sem discriminação, de qualquer natureza», destacou
Acrescentou que a «Administração, que deveria ser isenta, está a ser dirigida com base em privilégios de grupos ou de clãs de referência para o recrutamento de dirigentes para a Administração direta ou indireta do Estado».
Caos nos transportes, insegurança e declaração de contingência para S.Vicente
Alertou que os transportes teimam em não se libertar das assombrações e maus olhados, apesar de todos os exorcismos e de todas as esconjuras.
«A criminalidade campeia solta e a insegurança emerge como um dos problemas mais graves do país, reclamando medidas urgentes sob pena de se comprometer o futuro destas ilhas», denunciou.
Rui Semedo realçou ainda que a democracia ressente da falta de diálogo e da negociação políticas e está condicionada pela arrogância que parece ter instalado na cultura e nas atitudes dos atuais detentores do poder.
«A declaração de contingência para S. Vicente, nestas condições, é mais uma facada no coração da democracia. São Vicente pode ser ajudado a resolver os problemas da chuva sem este expediente de contingência», criticou o presidente do maior partido da oposição na sua declaração política durante a sessão plenária de hoje da Assembleia Nacional.
Vitórias e proposta para criação de fundo para competições internacionais
“Apesar das vicissitudes diversas, apesar dos contratempos constantes, apesar das dificuldades profundas os cabo-verdianos continuam a dar-nos razão para comemorar, razões para alegrar os nossos corações e acreditar que, sim, é possível continuar a sonhar e a perseguir os nossos sonhos”, destacou o parlamentar.
Neste particular, salienta as várias conquistas que Cabo Verde conseguiu no desporto. «Sentimo-lo quando a seleção sénior masculina de andebol conquistou a medalha de prata no Campeonato Africano das Nações. Apreciámo-lo quando os nossos basquetebolistas nos colocaram no 4.º lugar do power ranking do apuramento para a Copa Mundial da FIBA. Saboreamo-lo quando Cabo Verde subiu ao pódio com duas medalhas de prata no campeonato do Mundo dos paraolímpicos, de Túnis 2022. Estimamo-lo quando vimos Yanick Duarte no Master de jiu-jitsu, disputado na Espanha e na Escócia. Admiramo-lo quando os nossos pugilistas conquistaram sete medalhas (quatro de ouro, um de prata e dois de bronze) no campeonato da Zona II da modalidade. Ou ainda a conquista de primeiro lugar dos 54 quilos por um outro pugilista. Contemplamo-lo quando Lino Rodrigues se sagrou campeão do mundial fisiculturismo ou quando um outro colega seu se sagrou vice-campeão na categoria do Men’s Physique».
Semedo considerou que «estas referências é uma forma de render homenagem neste ano de 2022 a todos os nossos e as nossas atletas» nas mais variadas modalidades, que estão a esforçar-se para dar a si próprios e a todos nós estas alegrias que não podemos pagar.
«Uma forma de pagar séria, e esta é uma proposta, constituirmos um fundo nacional para a participação de Cabo Verde nas competições internacionais para, primeiro garantir que nenhum cabo-verdiano, em condições de competir, ficasse de fora das competições internacionais; segundo, que todas as equipas de todas modalidades possam participar, sem sobressaltos e sem humiliações, nos compromissos internacionais, e terceiro, para que haja uma fonte estável para financiar os compromissos internacionais», propôs em termos de políticas alternativas.
Grandes conquistas na cultura
Analisou também que o país sentiu o mesmo dinamismo e entusiasmo no que à atividade cultural. «Pudemos testemunhá-lo no dinamismo editorial e na diversificação da produção literária, na retoma das atividades massivas ligadas à música, ao teatro, à dança e a outras manifestações culturais e pudemos também ver vários trabalhos e criadores a serem reconhecidos».
Salientou o caso do poeta José Luiz Tavares, que foi galardoado com dois prémios: um selecionado para a primeira edição das bolsas de Residência Literária Eça de Queiroz e segundo, o prémio Ulysses 2022. «Temos ainda a escritora Dina Salústio agraciada com o Prémio Literário Guerra Junqueiro Lusofonia 2022».
Rui Semedo testemunhou também o revitalizar do batuque, cada vez mais reconhecido e com perspetivas de crescer e se projetar além-fronteiras e a língua nacional a ser introduzida na agenda dos debates nacionais, o que poderá indiciar um bom prenúncio.
Num outro registo, estamos ainda a tempo de felicitar, prossegue Semedo, a Stephany Amado pelos feitos recentes no Japão, 1ª Dama e Miss Internacional África.
«Um país com esta dinâmica cultural tão pujante é um país com ALMA e um país com uma ação desportiva tão intensa e tão reconhecida é um país com VIDA. Estas situações demonstram-nos que é possível sim e que não devemos perder as esperanças para um futuro melhor», admitiu.
PAICV disponível ao consenso sobre as grandes questões
Segundo asseverou Rui Semedo, o PAICV se disponibiliza para o diálogo e entendimentos sobre as grandes questões nacionais, colocando em primeiro lugar os supremos interesses dos cabo-verdianos que esperam dos políticos uma atitude patriótica e responsável.
«O PAICV acredita que se pode fazer política diferente nestas ilhas e que há espaço para se fazer mais e melhor para acudir as populações sofredoras para além de uma relação saudável com todos que queiram contribuir para um Cabo Verde mais desenvolvido, mais justo, mais solidário e com oportunidades para todos», enfatizou o líder do maior partido da oposição, que aproveitou a última sessão plenária da AN para desejar «Boas Festas a todas e a todos, Feliz Natal e votos de um Ano Novo com esperanças renovadas».