O segundo estaleiro indicado pelo Sumo Pontífice é o futuro e, o futuro, "são os jovens". "Mas muitos fatores os desanimam", "como a falta de trabalho, os ritmos frenéticos em que se veem imersos, o aumento do custo de vida, a dificuldade de encontrar uma casa e, ainda mais preocupante, o medo de constituir família e trazer filhos ao mundo. Na Europa e em geral no Ocidente, assiste-se a uma triste fase descendente na curva demográfica: o progresso parece ser uma questão que diz respeito ao desenvolvimento técnico e ao conforto dos indivíduos, enquanto o futuro pede para se contrariar a queda da natalidade e o declínio da vontade de viver".
As forças políticas, acrescenta Francisco, são chamadas a "corrigir os desequilíbrios económicos de um mercado que produz riquezas mas não as distribui, empobrecendo de recursos e de certezas os ânimos". Estas devem "voltar a descobrir-se como geradoras de vida e de cuidado da criação, a investir com clarividência no futuro, nas famílias e nos filhos, a promover alianças intergeracionais, onde não se apague o passado mas se favoreçam os laços entre jovens e idosos".
"A isto mesmo faz apelo o sentimento da saudade portuguesa, que exprime nostalgia, desejo de um bem ausente, que só renasce em contacto com as próprias raízes", afirma.
Finalmente, o Papa Francisco sublinha que o último dos estaleiros para a construção da esperança é a "fraternidade". "Em muitas partes de Portugal, está ainda muito vivo o sentido de vizinhança e solidariedade. Contudo, no contexto geral duma globalização que nos aproxima mas não nos dá uma proximidade fraterna, somos todos chamados a cultivar o sentido da comunidade, começando por ir ter com quem vive ao nosso lado".
"Com efeito, como observou Saramago, ’o que dá verdadeiro sentido ao encontro é a busca; e é preciso andar muito, para se alcançar o que está perto’".
Papa Francisco critica paradoxos e "remédios rápidos e errados como o fácil acesso à morte"
Francisco não se reserva nas críticas: "No mundo evoluído de hoje, paradoxalmente, tornou-se prioritário defender a vida humana, posta em risco por derivas utilitaristas que a usam e descartam".
"Penso em tantas crianças não-nascidas e idosos abandonados a si mesmos, na dificuldade de acolher, proteger, promover e integrar quem vem de longe e bate às nossas portas, no desamparo em que são deixadas muitas famílias com dificuldade para trazer ao mundo e fazer crescer os filhos".
E fala sobre a eutanásia: "Para onde navegais, Europa e Ocidente, com o descarte dos idosos, os muros de arame farpado, as mortandades no mar e os berços vazios? Para onde ides se, perante o tormento de viver, vos limitais a oferecer remédios rápidos e errados como o fácil acesso à morte, solução cómoda que parece doce, mas na realidade é mais amarga que as águas do mar?"
Papa Francisco: Jovens "não andam pelas ruas a gritar sua raiva, mas a partilhar a esperança do Evangelho"
Lisboa, afirma o Papa Francisco, "oferece-nos motivos para esperar". "Há uma maré de jovens que se espraia sobre esta cidade acolhedora. Quero agradecer o grande trabalho e generoso empenho empreendidos por Portugal para acolher um evento tão complexo de gerir, mas fecundo de esperança".
Os jovens, adianta Francisco, "não andam pelas ruas a gritar sua raiva, mas a partilhar a esperança do Evangelho". "E se, em muitos lugares, se respira hoje um clima de protesto e insatisfação, terreno fértil para populismos e conspirações, a Jornada Mundial da Juventude é ocasião para construir juntos".
"O mundo tem necessidade da Europa, da Europa verdadeira", discursa o Papa Francisco
No seu discurso no Centro Cultural de Belém ( CCB), o Papa Francisco afirma que o "mundo tem necessidade da Europa, da Europa verdadeira". "Precisa do seu papel de construtora de pontes pacificadora no Leste europeu, Mediterrâneo, na Africa e no Médio Oriente", afirma.
"Assim poderá a Europa trazer a sua originalidade específica delineada no século passado". "Tornando o sonho de abrir percursos de diálogo e inclusão".
O Sumo Pontífice acrescenta que "no oceano da história estamos a navegar num tempo tempestuoso e sente-se a falta de rotas de paz" e leva-o a questionar: "Para onde navegas, se não ofereces percursos de paz e vias inovadoras para acabar com a guerra na Ucrânia, e com tantos conflitos que trazem o sangue ao mundo?"
E ainda: "Que rota segues ocidente? A tua tecnologia que marcou o progresso sozinha não basta e, muito menos basta as armas sofisticadas que não representam investimento para o futuro, mas empobrecimento do capital humano".
"Portugal acolhe-vos de braços abertos", discursa PR Marcelo
Com o Papa já sentado no grande auditório do CCB, Marcelo Rebelo de Sousa dirige-lhe um discurso. "Hoje em Lisboa, Portugal acolhe-vos de braços abertos. Acolhe o vosso testemunho de dignidade das pessoas. De procura das periferias de luta contra fomes, misérias, abusos e intolerâncias", adianta.
A Semana com CNN Portugal / Imagem: Fotografia de José Sena Goulão/LUSA (Papa beijando criança anetes de entrar no Centro Cultural de Belém