“Hoje vivenciamos casos de consumíveis em situação de rutura nas unidades hospitalares, de equipamentos de imagiologia em número insuficiente, como por exemplo no Hospital Baptista de Sousa sem um aparelho sequer de TAC e em outros Hospitais Regionais e Central que precisam de reparação, manutenção ou substituição”, denunciou.
Ana Paula Moeda salientou que o serviço nacional de saúde não pode ser adiado por mais tempo porque as pessoas, os utentes, não podem continuar sem respostas quando mais precisam.
Complementou ainda que o pessoal de saúde precisa de mais incentivos para se fixarem, garantindo-lhes melhores condições de trabalho e carreiras dignas.
“Os hospitais encontram-se saturados e com pouca capacidade de resposta, longas listas de espera para consultas, para intervenções cirúrgicas e exames complementares de diagnóstico, listas essas cada vez mais longas. Os hospitais centrais (Praia e S. Vicente) não conseguem responder às necessidades dos utentes”, apontou.
Lista de espera longa e necessidade de acordo de evacuações para Senegal
Moeda referiu, por outro lado, que a nível das deficiências do sistema de saúde no País temos o caso gritante das evacuações internas e para o exterior. “Mais uma prova de descontinuidade dos investimentos na saúde”.
No que respeita às evacuações internas, disse, elas são uma autêntica odisseia, muitas vezes com finais infelizes.
“Atingiram um ponto tal que não correspondem às reais necessidades dos pacientes, como por exemplo, os longos tempos de espera de transporte incompatíveis com a urgência dos casos”, destacou.
A conferencista afirmou que em relação às evacuações para o exterior, o tempo de espera para decisão é enorme, envolto numa burocracia complicada e desgastante, tornando-se, também, moroso devido a urgência dos casos.
“Devido ao estado de saúde atual, temos cada vez mais pacientes a se deslocarem, por conta própria, ao Senegal, sem condições logísticas e garantias de acesso às estruturas de saúde. Ficam à deriva e à mercê da bondade de familiares, amigos e por vezes conhecidos. Neste capítulo, impõem-se uma intervenção no quadro da cooperação bilateral, tendo em conta que Cabo Verde e Senegal são membros da CEDEAO, para a formulação de um acordo a nível da saúde”, disse.
Novas políticas e direitos dos profissionais de saúde
Conforme a mesma, a saúde é um bem precioso e um direito inalienável consagrado na Constituição da República de Cabo Verde como um direito social. E que o Estado deve criar as condições para o acesso universal dos cidadãos aos cuidados de saúde, de importância capital para a vida de um Povo.
“Em resposta aos discursos vagos e intenções vãs do Governo, os cabo-verdianos querem ações concretas e medidas que cheguem, efetivamente, aos centros de saúde, às unidades de saúde básica (USB) e aos hospitais”, salientou.
Disse ainda que as políticas do MpD são limitadoras dos serviços públicos e subjugam os hospitais e centros de saúde à diminuição das despesas e à obtenção de receitas próprias, com claros prejuízos para a qualidade dos serviços.
“Os direitos de muitos profissionais da saúde não estão a ser observados. Assistimos a alarmantes carências em determinadas especialidades clínicas incluindo a de medicina familiar. Há sete anos que este Governo promete médicos de família e neste segundo mandato médicos e enfermeiros de família. Até à data a população de Cabo Verde aguarda ansiosamente por estes compromissos. Até quando?”, questionou.
Aumento dos custos de saúde e falta de investimentos
“Aumentou a dificuldade de acesso aos cuidados de saúde, tudo a pagar, agravado pela falta de materiais, equipamentos e consumíveis. Verifica-se hoje um aumento para os utentes das despesas com medicamentos em virtude do aumento do custo dos mesmos”, complementou.
Moeda enfatizou que a regressão é evidente se compararmos com quatro décadas de grandes ganhos na saúde, que beneficiou de grandes investimentos.
Por fim, o PAICV acredita que é necessário melhorar a gestão e administração da saúde, procurando alcançar novos ganhos.
“Hoje em dia, é geralmente aceite que a saúde é a pedra de toque do desenvolvimento e que uma saúde precária é uma barreira ao progresso socioeconómico. Por isso, precisamos de novos sistemas para planear e gerir o sector; Precisamos de oferecer serviços mais sofisticados e de maior qualidade; Precisamos garantir maior competências técnica e tecnológica dos hospitais, centrais, regionais e dos centros de saúde”, concluiu Ana Paula Moeda.