“Com efeito, vivemos a situação de termos um governo insensível aos problemas das pessoas, um governo desfocado e desconectado com a realidade, um governo que não dialoga, um governo que não ouve os outros, um governo que ignora, olimpicamente, todas as críticas, todas as propostas e todas as sugestões”, apontou o presidente do PAICV.
Crise política - Ausência de reformas e medidas desajustadas
Para Rui Semedo, a crise de governação é notada pela ausência de reformas e pelas medidas desajustadas que não contribuem para resolver os problemas fundamentais destas ilhas.
Crise política- Instabilidade nos transportes aéreos e marítimos
Na sua declaração política, o líder do maior partido da oposição destacou ainda que a crise política pode ser verificada pela instabilidade provocada no setor dos transportes aéreos e marítimos, “que parece ser vítima de enguiços permanentes para atormentar a vida dos cabo-verdianos que dão sinais de estarem exasperados com a ausência de respostas estáveis, duradouras e sustentáveis”.
“Cada hora uma notícia, cada momento uma surpresa e cada dia uma peripécia, cada uma pior que a outra e a surpresa passaram a ser os escassos dias de ligação sem sobressaltos”, salientou.
Relembrou do último episódio, que foi o escândalo de ver mercadorias dos operadores económicos a serem destruídas “por incúria e irresponsabilidade daqueles que mandam”, mas que não querem saber dos sacrifícios que as pessoas fazem para ganhar a vida e para sustentar as suas famílias.
“Sim, a situação que aconteceu com os produtos alimentares estragados é um escândalo vergonhoso, porque num país de muita pobreza, de falta de alimentos ou de insegurança alimentar, como o governo gosta de dizer, é inconcebível e até imoral que alimentos estejam a ser deitados fora, por pura falta de respeito para quem trabalha e quer ganhar a vida honestamente”, fundamentou.
Rui Semedo disse que a pergunta que fica é quem vai arcar com as responsabilidades e ressarcir aqueles ou aquelas comerciantes pelos danos materiais e financeiros causados.
Crise política- Aumento da criminalidade urbana
O parlamentar ressaltou ainda que a crise da governação é também testemunhada pelo aumento da criminalidade urbana, pela falta clamorosa de segurança e pelo agravamento da perceção de insegurança que levam as pessoas a uma verdadeira loucura.
“Todos estes anos foram tomadas as mesmas medidas, foram desenhadas as mesmas respostas e foram implementadas as mesmas políticas, pelas mesmas pessoas sem resultados e não se mudam as medidas, não se repensam as respostas, não se alteram as políticas e, muito menos, se mexem nos titulares mergulhados no insucesso e sem respostas que justifiquem a longa e infrutífera permanência nos cargos”, disse.
Crise política - Cultura de intransparência e caso das privatizações
Para o presidente do PAICV, a crise de governação é também verificada por uma compulsiva cultura de intransparência, que segundo afirmou, de forma irresponsável, conduz os negócios públicos sem concurso, sem respeito pelo sacrifício de Cabo Verde.
“O descalabro que foi a privatização dos TACV e a vergonha que representa a concessão dos transportes marítimos não serviram de lição para uma concessão mais ajuizada da gestão dos aeroportos e aeródromos”, pontuou.
Em seu discurso, apontou também que nem se tomaram medidas com as inspeções dos fundos de turismo e do ambiente surgem novos escândalos com os fundos da FICASE e todos eles envoltos em escândalos de tentativa do governo em esconder os relatórios das inspeções.
Continuou por dizer que a intransparência pode ser ainda no emprego e no acesso aos cargos públicos, no relacionamento com as empresas e os empresários, nas seleções para obras públicas e nas aquisições públicas, no geral, que, de acordo com os relatórios da ARAP, são feitas, em regra, por ajustes diretos, remetendo os concursos públicos para meras e raríssimas exceções.
Crise política - Dilapidação dos recursos públicos
Continuando a analisar a situação que se vive em Cabo Verde, Rui Semedo acrescentou que a crise de governação pode ser verificada também pela dilapidação dos recursos públicos, designadamente os recursos do INPS, colocando em perigo a sustentabilidade do sistema de previdência social.
Crise política- Aumento em 18% dos vencimentos dos governadores
Destacou que os últimos sinais de crise de governação é o aumento em 18% dos vencimentos do Governador e dos Administradores do Banco de Cabo Verde.
“Este aumento prova também que estamos perante uma crise de governação provocada por governantes que querem arrumar a casa para os seus titulares antes da despedida”, enfatizou.
Lembrou que antes desta medida já se tinha aumentado o vencimento do Primeiro-Ministro, de mais um governante e de um outro titular, todos membros do Banco Central.
De acordo com Rui Semedo, no fundo o que se verifica é a preparação do regresso dos mesmos em condições altamente vantajosas.
“Por outro lado, quer se exigir sacrifícios para aqueles que ganham menos que vão receber uma percentagem residual de aumentos. Dá-se grande percentagem aos que ganham mais e quase nada aos que ganham menos. Onde está a justiça? Onde está a solidariedade? Onde está a preocupação para com os que ganham menos e passam maiores dificuldades?”, questionou.
Ressaltou que, com este aumento salarial no BCV, o Governo perdeu toda a legitimidade e toda a moral de exigir mais sacrifícios aos cabo-verdianos.
“Por tudo isso, vê-se que precisamos de um governo mais humano, mais sensível aos problemas do povo, que sirva, realmente, o país e que governe para dar respostas aos problemas das pessoas”, concluiu o líder do maior partido da oposição na sua declaração política feita esta manhã no parlamento cabo-verdiano.
Foto: Inforpress