“Está-se a fazer um rigoroso inquérito às causas do acidente, para que acontecimentos trágicos dessa envergadura não voltem a repetir-se. Se houver responsabilidades elas devem ser assacadas”, afirmou o chefe de Estado, depois de visitar, na segunda-feira, os militares feridos durante o combate ao incêndio, ainda internados no hospital da Praia.
“Por outro lado, torna-se necessária uma aprofundada avaliação de todo o Sistema Nacional de Proteção Civil, de modo a identificar eventuais fragilidades e constrangimentos que prejudicam o seu desempenho e propiciar medidas de política orientadas para a melhoria global do sistema”, defendeu José Maria Neves.
Em causa está o incêndio que deflagrou no dia 01 de abril, pelas 10:30 (12:30 em Lisboa), na Serra Malagueta e Figueira das Naus, ilha cabo-verdiana de Santiago, 50 quilómetros a norte da Praia, cuja coordenação ao combate foi assumida pela Proteção Civil de Cabo Verde com apoio no terreno de militares e bombeiros. No dia seguinte, uma viatura das Forças Armadas de Cabo Verde despistou-se cerca das 17:20 (19:20 em Lisboa), acidente que provocou a morte a oito militares, tendo ainda morrido nestas operações um técnico do Parque Natural Serra Malagueta.
Cinco militares envolvidos no despiste no perímetro do PNSM permanecem internados no Hospital Universitário Agostinho Neto e 19 estão em recuperação na Policlínica das Forças Armadas.
“Temos de manifestar todo o nosso apreço às Forças Armadas pelo seu envolvimento patriótico na defesa nacional. Tem sido assim em todos os momentos decisivos da República. A participação das Forças Armadas no combate aos desastres naturais, às epidemias e mais recentemente à pandemia da covid-19 deve ser destacada, pela sua coragem, abnegação e entrega ao bem comum.
O Presidente cabo-verdiano recordou que o Governo já aprovou as pensões de sangue para os herdeiros dos militares que morreram durante as operações de combate às chamas, mas sublinhou que é “também urgente compensar as famílias que perderam os seus bens durante o fatídico incêndio”.
“Enquanto Comandante Supremo das Forças Armadas fica aqui o meu compromisso de defender o prestígio da instituição militar e de assegurar a todos os cabo-verdianos que tudo farei para que os jovens que servem a pátria no serviço militar se sintam orgulhosos e continuem a levantar bem alto o nome de Cabo Verde”, concluiu.
O incêndio no PNSM destruiu quase 850 hectares de terreno rural e florestal, segundo o levantamento feito por um investigador da Universidade do Algarve.
O incêndio deflagrou naquela área de 01 a 03 de abril e segundo o investigador Nuno de Santos Loureiro, diretor do mestrado em Sistemas de Informação Geográfica daquela universidade portuguesa, provocou “perdas irreparáveis” em espaço rural e florestal que se estendeu pelos concelhos de Santa Catarina e Tarrafal.
De acordo com o levantamento, com recurso a imagens de satélite do programa europeu Copernicus antes e depois do incêndio, foram destruídos 846,8 hectares, área que corresponde a 0,85% da totalidade da ilha de Santiago.
As autoridades cabo-verdianas estimaram anteriormente que o incêndio terá destruído uma área de 200 hectares.
O Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas (CEMFA) de Cabo Verde, António Duarte, garantiu na segunda-feira que está em curso uma investigação às causas que provocaram o acidente que levou à morte de oito militares no combate a um incêndio.
Em conferência de imprensa, o CEMFA referiu que, quando transportava 31 militares para o apoio ao combate ao fogo na Serra da Malagueta "por razões ainda a ser apuradas", a viatura militar embateu e acabou por capotar, provocando a morte imediata a cinco operacionais. Dois militares acabariam por morrer na unidade de saúde do Tarrafal e um na unidade de Santiago Norte, além de 23 feridos, oito dos quais estão ainda internados no hospital da Praia.
O incêndio obrigou à retirada de dez famílias da localidade de Figueira das Naus e a Polícia Nacional anunciou, entretanto, a detenção de um homem suspeito de ter ateado este incêndio no interior daquele parque. O individuo foi solto e detido novamente poucas horas depois a tentar provocar um outro incêndio na mesma zona, segundo informação do Ministério da Agricultura e Ambiente.
A Semana com Lusa