Mónica Ferro, diretora do Escritório do Fundo das Nações Unidas para a População em Genebra (UNFPA), falava durante a conferência online "Covid-19 e a igualdade de género: impacto, medidas e respostas", organizado pela Network Timor - Lei & Justiça, em parceria com Projeto de Apoio à Consolidação do Estado de Direito nos PALOP e Timor-Leste (PACED), segundo escreve a Lusa.
A mesma fonte referiu que desde o início da pandemia, foi percetível que as mulheres iriam ser afetadas desproporcionalmente pela crise, tornando-se claro que tambémA serão estas a sofrer ainda mais após a pandemia.
Mónica Ferro partilhou com os participantes e os espetadores virtuais alguns dos resultados "assustadores" de um estudo divulgado em Abril pelas Nações Unidas, que identificou uma "desigualdade e um impacto desigual sobre as mulheres".
Devido à disrupção dos serviços e do abastecimento de produtos, que se registou principalmente no mês de Março, para travar a propagação da infeção, cerca de 47 milhões de mulheres em países em desenvolvimento ficaram sem acesso a métodos contracetivos, somando-se aos 120 milhões de mulheres que já sentiam esta dificuldade, conforme a nossa fonte.
“No seguimento desta falta de acesso a métodos modernos de planeamento familiar, ocorrerão sete milhões de gravidezes não desejadas, além de um aumento das infeções sexualmente transmissíveis, segundo o mesmo estudo.
Mónica Ferro deu ainda outros exemplos de impactos da pandemia na saúde das mulheres, como a transferência de parteiras para a resposta ao novo coronavírus, que se traduziu no afastamento das grávidas das unidades de saúde”, cita a Lusa, adiantando que o próprio medo da infeção também afastou as parturientes destes serviços.
Segundo Mónica Ferro, citado pela Lusa, a pandemia continua a deixar a sua marca, estimando-se em mais 31 milhões os casos de violência baseada no género associados ao novo coronavírus e às medidas a que o mesmo obrigou.
”Isso deveu-se, não só porque as mulheres estavam, em muitas circunstâncias, fechadas em casa com os perpetuadores da violência, mas também porque a atenção estava direcionada a outro tipo de respostas", indica.
Sabe-se ainda, que no seguimento das interrupções e disrupções dos programas das Nações Unidas, irão concretizar-se, até 2030, 13 milhões de casamentos infantis que teriam seriam evitados, disse, citando o estudo das Nações Unidos.
A especialista disse ainda, que a pandemia está a retroceder anos de sucesso" nestas matérias da igualdade de género, ideia partilhada por Ariana Simões de Almeida, especialista em assuntos de igualdade de género e emancipação económica, para quem "a covid-19 não é um equalizador".
Por seu turno, Berta Montalvão, diretora da empresa Forsae, em Timor-Leste, e vice-presidente da Federação das Mulheres Empresárias e Empreendedoras da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (FME), começou por referir que não foi a Covid-19 que criou a desigualdade de géneros, pois essa "já exista".
Da experiência de Timor-Leste, onde vive há dois anos, sublinhou a flagrante desigualdade de géneros, destacando positivamente o aumento de mulheres com cada vez mais competências e com um papel mais interventivo na sociedade e na política do país, de acordo com a Lusa.