O cantautor Elton John, aos 73 anos de idade e mais de 55 anos de carreira durante os quais fez a transição de músico simples, e durante quatro anos casado com a Renate, para "flamejante superestrela" e ícone do mundo gay, reagiu ao anúncio do Vaticano que confirmou a proibição do casamento católico aos homossexuais, embora ressalvando que "a Igreja continua a acolher no seu seio a comunidade LGBTI+".

"Como é que o Vaticano recusa abençoar os casamentos gay porque são "um pecado", depois de lucrarem com o investimento de milhões que fizeram em ’Rocketman’ — um filme que celebra a felicidade do meu casamento com David?", escreveu nas redes sociais e a acompanhar a hashtag "hipocrisia", no dia seguinte ao anúncio de que o Vaticano decretara a 15 de março, em documento da ’Congregação da Doutrina da Fé’, que "os padres não podem abençoar casamentos entre pessoas do mesmo sexo: Deus não abençoa o pecado".

Elton John acrescentou posts sobre o co-financiamento da Igreja Católica ao filme biópico de 2019. O site americano Daily Beast por exemplo tinha noticiado que "um investidor ligado ao Vaticano entrou com quatro milhões e meio de dólares (c.quatro milhões de contos) em dois filmes, um dos quais "Rocketman". A revista semanal Newsweek esclareceu ontem com base numa reportagem do Corriere della Sera que o Vaticano entrou com 1,2 milhão de dólares no filme que custou 40 milhões de euros/$44 milhões.

O bioépico Rocketman, lançado em 2019, "baseia-se numa fantasia real", a biografia de Elton John. Flashes sobre a infância de Reginald, homónimo do avô, depois Elton são apresentados a intercalar a interpetação de algumas das canções mais icónicas da sua carreira, muitas delas premiadas com o prémio Grammy.

"O primeiro filme em que o casamento gay é celebrado" tornou-se um sucesso mundial, com lucros na ordem dos 17,5 milhões de contos ($195.2 milhões). Este "Rocketman", lançado em 2019, distingue-se pois de RocketMan 1997 e de The Rocket Man de 1954 na otografia e também no género e tema.

Rocket Man

Autor e intérprete de Rocket Man, o sucesso com que marcou o ano de 1972. A letra tematiza o homem que viaja de foguetão para a exoesfera, na certeza de que terá saudades da esposa. Mas que quando regressa à Terra, volta a sentir que "não [é] o homem que pensam". Nem mais. Ou seja, o exegeta pode ver aqui a biografia existencial do autor na sua criação: Elton John casado mas a quem o casamento (com uma mulher) não tirou as dúvidas (ao contrário dum "cercano" hesperitano que, em publicação de há uma década, descartava a problemática da orientação sexual com uma varredura: "escolhi uma mulher". Na perspetiva, entenda-se, de que esta seria a solução).

Elton John viu (decerto desagradado, porque em 2016 disse que não gostaria de ver o amigo Trump a misturar a sua música dele Elton com a política dele Trump) em 2017 o presidente americano a fazer renascer o interesse por essa canção, ao utilizar o título para insultar o presidente norte-coreano Kim.

No ano seguinte, Trump fez várias tentativas para fazer chegar o CD de Elton John ao líder supremo da Coreia do Norte, após o primeiro encontro, em junho de 2018 em Singapura.

Fontes: BBC/Newsweek/Daily Beast. Foto (Getty): Elton John, de músico simples e marido da Renate a superestrela flamejante e marido de David.