O parlamento conheceu hoje alguma agitação com a declaração política do PAICV sobre a situação de crise que se vive em Cabo Verde. “Vamos começar um novo ano parlamentar e, ao que tudo indica, vamos fazê-lo sob o signo da crise que insiste em nos perseguir, deixando marcas profundas no corpo e na alma das cabo-verdianas e dos cabo-verdianos,” afirmou o deputado e líder do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição), Rui Semedo, durante uma declaração política feita hoje na Assembleia Nacional.
Rui Semedo alertou ainda para a “difícil realidade” enfrentada pela população, marcada por uma “alta significativa” dos preços dos produtos e bens essenciais.
“Destino duro este nosso de enfrentar uma das maiores altas de preços dos produtos e bens essenciais sem as necessárias almofadas que deveriam ser criadas pelo governo para amortecer os choques e impactos na vida das pessoas”, afirmou.
O líder do PAICV não poupou críticas ao Governo, colocando em xeque a efetividade das ações governamentais em resposta à redução do poder de compra da população e à crise económica que assola o país.
“Destino ingrato este o nosso de enfrentar a mais drástica diminuição do poder de compra, sem se ensaiar o mínimo esforço do governo para repor os rendimentos ou, ao menos, tentar equilibrar os esforços das pessoas e das famílias para aceder ao essencial para uma vida digna”, salientou.
Crise da governação e situação social crítica no país
Numa aparente escalada crítica, Semedo aprofundou suas observações a respeito do desempenho governamental, destacando a crise de governação como um dos obstáculos prementes.
“Destino magoado este o nosso que nos obriga a ultrapassar todos os limites do suportável para enfrentar uma outra crise, se calhar a mais grave, que é a crise de governação,” evidenciou.
A sua narrativa apresentou um governo descrito como alheio às dificuldades e ao sofrimento do povo cabo-verdiano.
“Com efeito, vivemos a situação de termos um governo insensível aos problemas das pessoas, um governo desfocado e desconectado com a realidade, um governo que não dialoga, um governo que não ouve os outros, um governo que ignora, olimpicamente, todas as críticas, todas as propostas e todas as sugestões”, frisou.
O deputado também vincou uma crítica à gestão financeira e à alegada ineficiência na utilização dos recursos públicos, contrastando com o aperto experimentado pelos cidadãos comuns.
“A crise aumenta e pressiona as famílias a reduzir drasticamente o cabaz da sua dieta alimentar e o governo, num outro extremo, numa outra realidade fantasiada, fora deste mundo de dificuldades, engorda o seu elenco e aumenta os gastos públicos”, disse.
Rui Semedo, ainda na sua intervenção, colocou sob escrutínio as prioridades e as escolhas do executivo, apontando uma discrepância flagrante entre a realidade do povo e as ações governamentais.
“O salário dos trabalhadores diminui enquanto os passeios dos governantes aumentam, a olhos vistos, em viagens, internas e externas, desnecessárias, inúteis e sem qualquer benefício concreto para as pessoas e para as famílias deste nosso país sofredor”, notou.
Rui Semedo expressou também um sentimento de desalento perante a ausência de medidas efetivas que possam conduzir à resolução dos problemas fulcrais do país.
“A crise de governação é notada pela ausência de reformas e pelas medidas desajustadas que não contribuem para resolver os problemas fundamentais destas ilhas”, pontuou.