A Inforpress contactou as associações que representam os estudantes de Cabo Verde em diferentes cidades, e todos concordaram que, para além do preço das habitações, a dificuldade da adaptação, em vários aspectos, é “preocupante”.
“Para além do desafio de preço de habitação, outro desafio tem a ver com a adaptação nas cidades e universidades que não é nada comparável com Cabo Verde, tanto em relação ao método de ensino, carga horária das aulas ou língua, apesar da nossa língua oficial ser portuguesa”, considerou o presidente da Associação de Estudantes Cabo-verdianos em Coimbra, Jonathan de Pina, para quem o tempo sempre ajuda nessa adaptação.
A vice-presidente da Associação de Estudantes Cabo-verdianos em Aveiro, Elisa Spencer, concordou, indicando que entre o desafio da adaptação, é possível também encontrar a questão do “clima, saudades de casa, falta de apoio, dinheiro, país diferente, língua” e saber onde tratar da documentação.
“A demora em ter visto para vir a Portugal também é uma dificuldade, porque às vezes há colegas que chegam muito tarde, meses depois das aulas começarem e não conseguem acompanhar as matérias e acabam por ficar para trás em relação aos colegas, ainda por cima num mundo diferente, cheio de desafios, onde não conheces ninguém e sem suporte”, frisou.
Por sua vez, a presidente da Associação de Estudantes Africanos em Bragança (AEAB), Romana Brandão, apontou a problemática da legalização como um dos principais problemas, mas não esqueceu a adaptação, nesse caso, em Bragança, em relação ao clima, considerando que “os estudantes cabo-verdiano não têm noção do clima da cidade e quando chega o frio ficam abismado, como se não estivessem à espera”.
O União de Estudantes Cabo-verdianos em Lisboa (UECL), Edson da Veiga, reiterou também que um dos desafios enfrentados passa pela obtenção do visto, permitindo-os chegar a tempo às primeiras aulas.
“A dificuldade em arcar com as despesas mensais, mas ainda muitos estudantes têm algumas dificuldades a adaptarem-se ao ensino superior em Portugal e ao país, além disso, no caso dos bolseiros, o valor é insuficiente para cobrir as despesas”, sustentou.
Entretanto, Edson da Veiga acredita que as formas de “contornar ou minimizar” esses desafios passam por uma “maior preparação/consciencialização” dos estudantes e dos seus familiares antes destes virem para Portugal, munindo-os de mais informações em relação à realidade de estudar em Portugal.
“Também o aumento do valor e da quantidade de bolsas de estudos para Portugal [o valor actual da bolsa do Estado de Cabo Verde, de 271,84 euros, sendo a última actualização a esse valor efectuada em 2000] e maior proximidade dos decisores políticos com as associações estudantis de forma a juntos trabalharmos para resolvermos os desafios dos estudantes cabo-verdianos em Portugal”, sugeriu.
Jonathan de Pina tem opinião semelhante, entendendo que para driblar esses desafios “são necessárias medidas abrangentes que incluem implementação de política que visa reduzir o preço das habitações, aumento de bolsa de estudo e auxílio financeiro para os estudantes cabo-verdianos”.
“Acho que nós os estudantes precisamos de mais atenção por parte do Governo, nomeadamente em relação ao valor da bolsa e despesas e custo de vida está a aumentar a cada dia. Os responsáveis cabo-verdianos devem tentar estar mais perto dos estudantes e das associações que os representam, porque sozinhas não têm força suficiente para ajudar todos”, frisou Elisa Spencer.
Já Romana Brandão assegurou que a AEAB está “constantemente a trabalhar para facilitar a legalização e fazer um acompanhamento dos estudantes no Instituto Politécnico de Bragança”, defendendo que para uma melhor e rápida adaptação, é necessário informar os estudantes cabo-verdiano sobre a realidade do país onde vão se inserir.
A Semana com Inforpress