O ex-banqueiro António Paulo Araújo Portugal de Guichard Alves, de 62 anos, dirigiu da penitenciária no Vale do Sousa, distrito do Porto, um pedido de desculpa aos lesados do BPP-Banco Privado Português.
Em entrevista exclusiva à SIC ontem à noite, Paulo Guichard, o único banqueiro a cumprir pena — numa prisão onde partilha uma pequena cela com outros três reclusos —, quis pedir desculpa aos lesados do banco falido há mais de uma década.
Além da pena de quatro anos e oito meses que está a cumprir, Guichard tem ainda uma condenação de nove anos e outra de três, quase a tornarem-se definitivas, lê-se na entrevista exclusiva durante a qual o braço direito de João Rendeiro assumiu que no BPP "foram cometidos crimes e ultrapassadas linhas vermelhas".
Do habeas corpus... até entregar-se à prisão
O ex-administrador do BPP que foi detido em outubro de 2021, no Aeroporto Sá Carneiro, na cidade do Porto, ao desembarcar do Rio de Janeiro onde vivia nos últimos doze anos, começou por ser solto uma semana depois através de habeas corpus.
Voltou a ser notícia em fins de abril último, depois de perder todos os recursos judiciais: entregou-se às autoridades para cumprir uma pena de quatro anos e oito meses de prisão, pela prática de seis crimes de falsidade informática e um crime de falsificação de boletins, atas ou documentos.
O único detido do trio dos principais administradores do BPP — com João Manuel Oliveira Rendeiro (fundador do BPP em 1996, em fuga para a África do Sul que terminou tragicamente na cadeia em maio transato) e Salvador Pizarro Fezas Vital — teve no final de março transato indeferido um último apelo de arguição de nulidade (da decisão do Tribunal da Relação que lhe agravara a pena para prisão efetiva, em junho de 2020).
Sem hipóteses para seguir outra via jurídica, Guichard decidiu cumprir a pena, perante esse novo indeferimento dado pelo Tribunal Constitucional, que não admitiu analisar o "recurso de constitucionalidade".
Rico?.
"Claro que já fui mais rico", considerou, "mais materialmente confortável". Contrapõe: "Mas do ponto de vista humano, sinto-me mais bem apetrechado ".
"Estou mais rico humanamente e espiritualmente”, remata o ex-banqueiro recluso.
E ... Sócrates
A investigação da SIC ao ex-primeiro-ministro Sócrates é divulgada esta quinta-feira 23, uma semana depois da entrevista a Paul Guichard. O primeiro chefe de governo a cumprir pena de prisão em Portugal mantém a mesma alegação para não responder à reportagem televisiva: "Não vou discutir com estranhos a minha vida privada".
O ex-primeiro-ministro português José Sócrates volta a usar a acusação de devassa à sua vida privada. Alguém da audiência recordando os princípios da accountability (prestação de contas), que o servidor público deve seguir, conclui com a pergunta do título.
A accountability (do século XXI, pela qual juram todos os decisores e gestores públicos, corresponde ao que o Eça de Queirós defendeu na sua escrita ensaística sobre a necessidade de o homem público ter de prestar contas ao público , rematando com "É do interesse público até as contas da lavadeira do homem público".
Mas é contra a accountability que Sócrates, como aponta um painel de jornalistas e comentadores da SIC, "está sempre protegido". Apontam que "Sócrates está sempre protegido": tem, além do amigo amigo Santos Silva, o empresário Adélio Machado que "sai de Paris para comprar a empresa de informática EZM em Espanha"... Ambas falidas! Mas "paga em ano de epidemia 12.500 euros mês durante 1 ano e 8 meses, total 200 mil euros" por um contrato cujos fins e resutados não sao esclarecidos.
"Até podiam justificar que a empresa está falida, mas que paga a Sócrates para, por exemplo, ele abrir as portas para contratos dessa empresa na América Latina, no Brasil — onde Sócrates até pode estar a ser o ideólogo de investimento do presidente Lula ... ou nos Palop.
Mas não: "preferem escudar-se na mentira" ou "na acusação de devassa da vida privada", rematam no painel de jornalistas da SIC.
Fontes: SIC/JN.pt/DN.pt/. Relacionado: Portugal: Banqueiro do BPP de Rendeiro entrega-se à prisão, 28.abr.022; Portugal-Rendeiro: Justiça apreende património para ressarcir lesados do BPP — Só ficou o "impenhorável", 07.fev.022; Banqueiro fugitivo João Rendeiro encontrado morto na prisão em Durban — Deixa c.40 milhões de euros de dívidas, 14.mai.022. Fotos: Paulo Guichard, 8 meses depois de se entregar para cumprir c.5 anos de pena na cadeia de Vale do Sousa, aproxima-se da sala onde vai dar a entrevista exclusiva à SIC.