No Dia de Camões — descentralizado na idílica paisagem duriense — os conflitos entre a classe docente e o primeiro-ministro atingiram um novo auge.
António Costa classificou de "racista" a caricatura de si, em que surge com focinho suíno. O autor da charge, que só uma facção da classe docente em guerra apoia, nega esse adjetivo.
Há racismo? Há quem proponha: "Só o Costa pode falar disso, se ele sente que é racismo então é racismo".
É um debate, pois, muito duvidoso e na dúvida o Costa tem lucrado. Recorde-se como virou o bico ao prego e fez com que uma deputada da oposição democrata-cristã, nascida na Angola colonial, incapaz de reagir, ficasse sem palavras à acusação de racismo. Seguiu-se a derrota eleitoral que tirou o CDS da representação parlamentar e afstou uma das mais influentes portuguesas (Duas angolanas entre 25 mais influentes de Portugal, 14.abr.018).
Semanas antes, na SIC ou TVI, um ’influencer’/comentador/jornalista em lágrimas noticiou o acidente da socialite Cinha Jardim e — juntando a frase do título— frisou que ela foi socorrida por ’pessoas de cor’ que a encontraram inanimada ao volante.
A celebridade Cinha Jardim, nascida na Beira, Moçambique em 1956, destaca-se por uma frase e pela nota biográfica na Wikipédia que começa: "Cinha Jardim, nome profissional de Maria da Graça de Sousa Pereira Jardim, (Beira, Moçambique; 22 de Dezembro de 1956) é uma socialite portuguesa", "é filha do engenheiro e empresário Jorge Jardim, uma destacada figura dos últimos anos do Estado Novo, radicado em Moçambique, para onde foi como espião de Salazar e autor do livro Moçambique, Terra Queimada. É a oitava de 12 irmãos biológicos — nove raparigas e três rapazes"...
A frase que "Fui eu que lancei o Santana Lopes". Nem mais: o político social-democrata que ao ascender à chefia do governo tornou a residência oficial do primeiro-ministro em lugar de glamour que atraía os paparazzi (consentidos) das revistas mundanas.
Segundo se noticiou abundantemente nas última oito semanas, a atual comentadora de televisão e conhecida ex de Santana Lopes desmaiou na ia pública — após ter conseguido parar o carro. O seu co-apresentador da TVI diz que a amiga foi socorrida "por pessoas de cor" que a encontraram inanimada. "Por favor, não digam que a Cinha é racista. Não é verdade. Isso custa-me tanto quando oiço essas coisas...", defendeu.
O comentário em defesa da socialite faz referência aos manos celebridades destacadas em programas populistas. No programa ’Dois às 10’, da TVI, de 30 de dezembro, um dos manos Vemba, o Nelson, "ao ser questionado sobre o que mais lhe custou ouvir sobre o irmão, o jogador Miro Vemba, lembrou um comentário infeliz de Cinha Jardim e aproveitou para enviar um recado à socialite", noticiou-se então.
Planta escura?
"Se nós ouvíssemos só planta até ficaríamos bem. A única coisa que não gostámos de ouvir... Estas palavras vão para a Cinha Jardim, que chamou o Miro de ’planta escura’. Eu não sei como é o jardim da casa dela, se tem plantas ou não... Porque eu para falar de um planta escura é porque tenho plantas escuras em casa. Foi a única coisa que ouvimos desagradável", lamentou Nelson Vemba.
Perante o desagrado do irmão de Miro e Gilmário Vemba, Cláudio Ramos resolveu sair em defesa da comentadora cuja frase "Fui eu que lancei o Santana Lopes" atravessou os anos do planeta no seu curso, entre o grande astro e as miríades de estrelas...
.
Fotos: Cinha Jardim tem estado no foco mediático português nos últimos quatro decénios. A ’socialite’ associada ao PSD, dada a relação com Santana Lopes — é uma frase que atravessou os anos, o planeta no seu curso, as estrelas... —, a relação com a direita tem vínculos familiares, já que o pai e o falecido marido estavam associados ao regime salazarista.
Série: Escritas ao sábado.