O presidente Marcelo no discurso aos portugueses, esta quinta-feira à noite, sobre a crise no governo e a demissão rejeitada do ministro das Infraestruturas pela qual repreende o primeiro-ministro, confirmou que não dissolve o parlamento, mas prometeu ficar "mais atento".
O discurso do presidente português foi tido como adequado pela oposição social-democrata enquanto também à direita, a IL-Iniciativa Liberal e o Chega consideram que o presidente Marcelo devia ter ido além, sugerindo a exigência de demissão do ministro Galamba.
A esquerda criticou as duas principais figuras do Estado, mas pediu o foco sobre as "respostas aos problemas do país".
As palavras do presidente para uns chegaram com atraso, no âmbito da crise institucional que marcou os últims dias e com ápice esta terça-feira — data que marcou o fim da unanimidade entre o presidente Marcelo e o primeiro-ministro Costa — dada a avaliação oposta que chefe de Estado e chefe de governo fazem sobre o ministro das Infraestruturas.
Quando se esperava que o primeiro-ministro comunicasse a demissão de João Galamba, António Costa pronunciou-se ao princípio da noite desta terça-feira para dizer que o ministro das Infraestruturas apresentara a demissão — "um gesto nobre" — mas que em consciência ele não a podia aceitar. "O ministro agiu de acordo com o seu dever"; "nada lhe pode ser imputado", acentuou.
Onde rebenta a corda. Quarenta e oito horas depois, o presidente disse "os pequenos pagam", criticando pois o facto de todo o ónus ter sido atribuido ao "colaborador" Pinheiro — que foi demitido pelos factos relacionados com a "ocultação de dados informativos à CPI da TAP" e depois foi alvo de uma ação dos serviços SIRS, SIS, após o gabinete de Galamba "denunciar às autoridades o roubo de um computador com informação classificada", segundo acentuara o primeiro-ministro.
A Pinheiro "é imputável" todo o ónus, pois é "quem tendo sido demitido agiu violentamente contra outras pessoas ", "violou o dever do governo de se apresentar responsavelmente diante dos portugueses ", reafirmou Costa .
Presidente: da breve nota à avaliação arrasadora
Depois do que disse desde sábado o presidente da República, a indicar ser a favor da 15ª saída do governo socialista, Portugal esteve em suspense enquanto aguardava o que iria fazer o primeiro-ministro.
Ao quarto dia, com Costa a anunciar que não aceitara o pedido de demissão do ministro Galamba, o site presidencial, presidencia.pt, colocou uma nota que começa assim: "O Ministro das Infraestruturas. apresentou hoje o seu pedido de demissão, invocando razões de peso relacionadas com a percepção dos cidadãos quanto às instituições políticas".
Prosseguiu o presidente que "o Primeiro-Ministro, a quem compete submeter esse pedido ao Presidente da República, entendeu não o fazer, por uma questão de consciência, apesar da situação que considerou deplorável".
Só quarenta e oito horas depois do pronunciamento do chefe do executivo é que o chefe de Estado fornalizou a sua posição com uma avaliação arrasadora.
"O ministro das Infraestruturas deveria ter sido exonerado". Nisto, aponta Marcelo, reside a "divergência de fundo com o primeiro-ministro. Não sobre a pessoa, as suas qualidades pessoais ou até o seu desempenho, mas sobre a responsabilidade, credibilidade, a autoridade do ministro, do Governo e do Estado".
Contudo, justificou Marcelo, não haverá lugar à dissolução do parlamento ou à demissão do governo, porque "os portugueses dispensam esses sobressaltos, essas paragens, esses compassos de espera, num tempo como este, em que o que querem é ver os seus governantes resolverem os problemas do dia a dia", defendeu.
Fontes: RTP/SIC/RR.pt. Relacionado: Portugal: Primeiro-ministro tem "toda a confiança" em ministro Galamba cuja demissão "todos pedem" e o próprio apresentou — Presidente Marcelo discorda, 03.mai.023. Foto: Agora, que Costa se distancia de Marcelo, recorda-se a "proteção" simbolizada no guarda-chuva da "bonne entente" há sete anos em Paris "que tem o melhor de Portugal" (os emigrantes) como ambos celebraram nos encontros à volta do Dia de Portugal em 2016. Abre-se uma nova era na relação PR-PM, em que o presidente promete mais vigilância sobre o governo.