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Portugal: Duplo homicida "ameaçado pelos talibãs" — 2 funcionárias do apoio a refugiados no Centro Ismaelita de Lisboa 03 Abril 2023

Mais informações obtidas junto de fontes ligadas ao acolhimento de refugiados, incluindo a comunidade afegã, podem ajudar a deslindar o "chocante ataque" por um refugiado afegão na terça-feira, que matou duas funcionárias (foto) do Centro Ismaíli de Lisboa. Mariana, de 24 anos, e Narana, de 49 anos, são as vítimas mortais e o professor de português ficou ferido.

Portugal: Duplo homicida

Abdul Bashir estava a receber notícias de ameaças feitas pelos talibãs aos próprios pais e outros familiares deixados no Afeganistão. Tudo para o pressionar o engenheiro de telecomunicações a regressar ao país de origem segundo revelou o líder da comunidade afegã em Portugal, Omed Taheri.

O refugiado afegão "de 28 anos", viúvo e pai de três crianças — de nove, sete e quatro anos — residia num 7º andar em Odivelas. Na terça-feira, com as crianças entregues na escola rumou como de hábito ao Centro Ismaili, onde tinha aulas de português e recebia ajuda alimentar para si e os filhos.

Abdul Bashir recebeu durante a aula uma chamada telefónica e ato contínuo tirou a arma branca com que teria entrado no centro.

O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, informou na quarta-feira que Abdul Bashir foi "cidadão beneficiário do estatuto de proteção internacional", levava uma vida "bastante tranquila", sem dar qualquer indício de que ia cometer o crime que chocou o país.

Percurso Afeganistão-Portugal da família com três crianças

Há pouco mais de um ano chegaram a Portugal vindos da Grécia, sem a esposa que perdeu a vida num incêndio. As informações ainda são escassas, mas tudo aponta que esta família faz parte duma das mais recentes levas de refugiados em fuga do Afeganistão após as tropas americanas entregarem o poder aos talibãs, em 15 de agosto de 2021 (Cabul em desespero: Pais entregam bebés a soldados — "Levem o meu bebé, seja para onde for", 21.ago.021).

Esta terça-feira, o alerta sobre a tragédia foi dado às 10h57 (menos duas horas em Cabo Verde) quando um professor saiu da sala de aula onde o aluno se virou contra os presentes.

Segundo se suspeita, foi ao receber uma chamada telefónica que o homem tirou a arma branca com que teria entrado para a sua aula de português.

Os primeiros polícias chegaram ao local um minuto depois e "depararam-se com um homem armado com uma faca de grandes dimensões".

Diante da ordem policial para se entregar, o atacante "desobedeceu, avançando na direção dos polícias com a faca na mão".

A Polícia então disparou um tiro, que feriu o atacante no joelho. Depois de socorrido e conduzido ao hospital, o indivíduo está "sob custódia" da polícia.

Críticas ao acolhimento

Num vídeo gravado em Lesbos em 2021, Abdul Bashir "licenciado em Engenharia de Telecomunicações" queixa-se da falta de resposta dos serviços de asilo da União Europeia. "Durante um ano" aos seus pedidos por email, fax, e telefone, "toda a gente me diz para esperar, esperar, esperar...".

Segundo um porta-voz dos refugiados afegães em Portugal, Abdul estaria a sofrer de perturbações mentais. Além disso, ele não estava a conseguir ter os apoios de que precisa, incluindo junto do Centro Ismaili que não respondeu ao seu pedido para acolher os filhos para ele poder trabalhar.

A tragédia consumada, o Centro anunciou ter acolhido os filhos de Abdul.

"Em Portugal, a forma como se acolhem os ucranianos é diferente da forma como se acolhem as pessoas mais castanhas", rematou a psicóloga social Faranaz Kheshavjee que é membro da comunidade ismaíli em Portugal. Nascida em 1968 em Moçambique e chegada em fins de 1974 a Portugal com o estatuto de refugiada, ela é "prima em segundo grau" de uma das duas vítimas mortais.

Fonte: RR.pt/CNN-TVI/SIC/. Foto (Getty): O agressor. As vítimas mortais. O Centro Ismaelita de Lisboa, na freguesia de Benfica, é a sede mundial da comunidade ismaili/ismaelita, um ramo da religião muçulmana. O edifício inaugurado em 1998 descreve-se como "espaço de ajuda social, ensino e cultura laica".

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