"Está muito assustado, apesar de só apresentar algumas escoriações", diz um amigo do jovem espanhol que caiu ontem à tarde de uma altura de cerca de três metros para um prédio abandonado e em ruínas no coração do Porto (mapa).
Alojados no quarto andar do Hostel Nice Way, o grupo (vindo de Salamanca na sexta-feira e com regresso no domingo) tinha acabado de chegar de uma volta pela cidade. Assim que a vítima foi à janela "que abriu, caiu, não se atirou! Eu e uns amigos ainda tentámos ajudá-lo, mas não conseguimos, porque o local onde caiu é muito instável".
Segundo o Jornal de Notícias, o local muito instável dificultou a operação de resgate. Os bombeiros, Sapadores do Porto, mobilizaram uma autoescada e acabaram por retirar o jovem com ajuda de cordas, cerca de duas horas depois do alerta dado pelas 17H40. Além dos Sapadores do Porto, com três viaturas e 12 operacionais, estiveram ainda presentes meios dos Bombeiros Voluntários do Porto e do INEM. Foi depois encaminhado para o hospital de Santo António, no centro do Porto.
Alojamento turístico ao Deus-dará
A falta de fiscalização nas unidades de turismo é apontada sempre que algo corre mal. Isto não é de hoje, vem de décadas atrás. Mas piorou com o boom turístico da última década, o da onda que começou em Lisboa — em associação especulativa com a degradação de áreas do centro marcados por pédios mais antigos — e depois avançou para a segunda maior cidade.
O hostel enquanto unidade de alojamento de baixo preço continua a tradição do "albergue espanhol", que a França regista desde o século XVII. Um marcador xenófobo, presente nas relações entre nações, por vezes agudizado como em ocasiões de conflito.
A expressão "auberge espagnole" fossilizou-se como qualificativo dos alojamentos onde o viajante francês só podia contar com as comodidades — desde roupas de cama e talheres a serviços de refeição — que transportasse consigo.
Hoje a expressão especializou-se no sentido positivo de ponto de encontro, mas avulta ao espírito a significação antiga sempre que algo corre mal. E pode sempre correr mal, numa economia marcada pela busca do lucro apressado, que corre desenfreado sem antes resolver a degradação de áreas urbanas.
Porta, janela que dá para o vazio
É inevitável suspeitar-se de que falta fiscalização nas unidades de turismo, espaços de diversão sempre que se dá uma ocorrência que vitima pessoas.
Uma abertura — porta, janela — que dá para o vazio. Aconteceu também no coração do Mindelo, em 17 de dezembro transato com consequências trágicas que enlutaram não só a família mas também os fãs da voz prodigiosa que foi Dulce Matias. A culpa vai morrer solteira, não haverá lição a tirar?
Fonte: JN.pt/Arquivo A Semana.