A afirmação foi feita em declarações à Inforpress, em Lisboa, no âmbito do Dia da Cultura e das Comunidades, assinalado quarta-feira, 18, sob o lema “Somos cultura” e, este, ano com o acto central no Centro Cultural Cabo Verde (CCCV), em Lisboa.

“O municipalismo tem de fazer a sua parte para que o Governo complemente, mas, ao mesmo tempo, o Governo não deve sair para que o município fique um pouco atoa. É importante termos vários níveis de planificação a nível nacional, mas a nível municipal tem que funcionar”. Defendeu Abraão Vicente.

Segundo o governante, há infra-estruturas culturais que têm que ser construídas e criadas pelas câmaras municipais, que também têm autonomia para classificar bens culturais como património municipal ou pedir que seja classificada a nível nacional.

“Não há indústria criativa sem uma cadeia de valores. Todos deveriam ter marcas e ‘merchandising’ (…). É preciso que os festivais de música em Cabo Verde não sejam os grandes promotores do álcool, porque os eventos culturais não devem ser focos da promoção do alcoolismo”, frisou.

Neste sentido, Abraão Vicente reitera ser um “crítico feroz” pelo modo como se organiza muito dos festivais municipais, já que, na sua opinião, “a luta pelo protagonismo muitas vezes ofusca aquilo que deve ser um pensamento a longo prazo”, defendo que a música tradicional deve ter uma quota mínima de 40% nos palcos dos festivais.

No seu entender, as câmaras municipais têm de compreender que “não são os festivais que dão nota à sua competência da gestão municipal, frisando que até ao momento nenhuma das 22 câmaras municipais aderiu ainda ao Programa Nacional de Leitura (PNL), mas que “todas querem financiamento para pagar cachés aos artistas nos festivais”.

“Financiamos a reabilitação do auditório Paulino Vieira e ainda não foi concretizado, financiamos a reabilitação do auditório nacional, que em princípio teria no nome de Orlando Pantera, em São Lourenço dos Órgãos, ainda não foi reabilitado, já fizemos uma abordagem à Câmara Municipal do Tarrafal para reabilitarmos um pequeno auditório e nunca recebemos uma proposta e à mesma maneira, não temos qualquer trabalho com a Câmara Municipal da Praia”, apontou.

Para o ministro, “algo está a falhar num pensamento a médio e longo prazo com a cultura cabo-verdiana, porque isto aqui não é partidário”, justificando que há excepções entre as câmaras, como do Porto Novo, Sal, Santa Catrina e Santa Cruz, por exemplo.

Além disso, o Ministério da Cultura, conforme Abraão Vicente, tem financiado praticamente todos os “grandes eventos marcas de Cabo Verde, permanentemente”, como Mindelact, Carnaval, Kriol Jazz Festival (KJF), Mindel Summer Jazz (MSJ) e festivais de teatro na Praia e Sal.

Em relação as próximas comemorações do Dia Nacional da Cultura e das Comunidades, o ministro garantiu que serão em Cabo Verde os actor centrais, regozijando, no entanto, como o facto de o país vir a ter cinco adidos culturais, “o que dá uma nova importância, não só a cultura, mas às próprias comunidades”.

“A nossa ideia é reforçar e ter infra-estruturas como o CCCV, em Boston, França ou em Roterdão”, disse, indicando que a comemoração deste ano, em Lisboa, “é simbólico” e que o objectivo “é consolidar a diáspora cabo-verdiana”.
O Dia Nacional da Cultura e das Comunidades foi instituído em Outubro de 2005, com o intuito de celebrar tanto a cultura cabo-verdiana, como as suas comunidades.

A data homenageia o dia de nascimento de um dos maiores literatos da história de Cabo Verde, o poeta Eugénio de Paula Tavares, falecido aos 63 anos na Vila Nova Sintra, ilha Brava, em 1º de Junho de 1930.

Em Cabo Verde, o mês da cultura tem sido celebrado um pouco por todo o país com várias actividades e manifestações culturais.

A Semana com Inforpress