O percurso profissional deste membro da "única dinastia portuguesa de banqueiros" passou por Lausanne, Londres e Lisboa, sempre na área bancária. José Manuel Espírito Santo liderou o Banque Privée Espírito Santo na Suíça durante décadas até sofrer, em 2019, um AVC que o deixou com lesões permanentes.
O BPES falido (e que levou o seu presidente à audiência parlamentar em 2014) está, segundo notícias desde janeiro, em processo de liquidação.
A falência do bissecular BES quatro décadas após a sua refundação não pode ser imputada a José Manuel Espírito Santo, que foi um "ator secundário", "apanhado" pelos processos, e que deveria ser absolvido das condenações do Banco de Portugal e CMVMA, como defendeu o seu advogado no Tribunal da Concorrência em anos recentes.
José Manuel Espírito Santo liderou a refundação do Grupo Espírito Santo, após a nacionalização do BES em 1975. Um novo lance na biografia do banqueiro que passou pela prisão de Caxias no pós-25 de Abril, como aconteceu a diversos magnatas do antigo regime.
Tronco humilde da dinastia
É aos 19 anos de idade que José Maria do Espírito Santo Silva aparece pela primeira vez referido, num registo contabilístico da «caza de câmbio» sita na proximidade da Igreja de Santa Catarina, onde se fazia comércio de lotarias, câmbios e títulos. JMESS está envolvido na revenda da lotaria vinda de Espanha, cujos prémios eram muito superiores aos da lotaria portuguesa.
Nessa primeira fase JMESS – além de comprar e vender obrigações, transacionar títulos de crédito nacionais e estrangeiros, empréstimos de dinheiro e câmbios – é um jovem empreendedor que expandiu a redistribuição da lotaria espanhola até ao Brasil.
A única dinastia de banqueiros portugueses entronca, pois, em José Maria do Espírito Santo Silva. Nascido em Lisboa, a 13 de maio de 1850, JMESS foi registado como "filho de pais incógnitos". Só especulações surgem na biografia dinástica dos ESS sobre quem teria sido a mãe do patriarca nascido no Bairro Alto.
O recém-nascido deixado na Roda dos Enjeitados acabou por ser criado pela Santa Casa da Misericórdia. A instituição fundada no século XV e trazida anos depois para a Cidade Velha teve e mantém em Portugal um papel que nunca alcançou em Cabo Verde, onde se extinguiu com o declíno da primeira cidade europeia nos trópicos (a mesma que em certos anos da Era de Quinhentos rendeu mais aos cofres do rei que Lisboa).
Ascensão surpreendente. A partir dos anos 1870, com o governo português a reprimir a venda das lotarias estrangeiras, e a crise financeira em Espanha de 1868 a 1874, JMESS investe mais nos títulos de crédito e câmbios. Em 9 de novembro de 1880, uma segunda-feira, abriu uma nova «caza de cambio», na Rua Augusta (foto), onde estavam sediados quase todos os estabelecimentos bancários da capital.
É nessa fase que irá expandir e solidificar a sua situação no comércio bancário, da concessão de crédito até à negociação de fundos públicos.
Os biógrafos destacam o percurso sui generis de JMESS, um outsider perante a elite económica lisboeta ou a oligarquia política e económica, detentora do poder, sem relações de amizade pessoal importantes nem laços familiares.
Fontes: SIC/TVI/Semanário Económico/Registos... Relacionado: Portugal: Bloquista Mariana Mortágua processa André Ventura por difamação, 16.nov.021; "Fora de Jogo": Justiça ordena devassa no Benfica, FC Porto, Sporting e Gestifute — 47 arguidos, 04.mar.020; 139250; Embaixador de Portugal e presidente do BES-CV apelam ao investimento português, 15.nov.011