A coordenadora do projecto, Lena Marçal, falava à imprensa à margem da apresentação deste projecto que surgiu do desejo de estimular o processo criativo na sua expressão literária nos indivíduos encarcerados, justificando que as grades aprisionam as pessoas e não as emoções e sentimentos.
A mesma fonte explicou ainda que o objectivo é fazer com que os reclusos falem dos seus sonhos, das suas expectativas e histórias, com o título “O caminho para a cadeia”, como forma de provocação, fazendo com que pensem na sua trajectória como reclusos e o que os levou a caminho da cadeia.
Explorar outra dimensão do ser humano preso para dar-lhes a voz e sentirem-se valorizados, bem como mentalizarem que o outro se preocupa com eles e assim possam trazer um “belo trabalho” literário para a sociedade é outro dos propósitos da criação deste projecto, acrescentou.
Para além disso, Lena Marçal avançou que este projecto está a ser implementado em “boa hora” porque, conforme explicou, neste momento o Ministério da Justiça está a trabalhar no lançamento da nova estratégia do Plano Nacional da Reinserção Social que visa a humanização dos centros prisionais.
Entretanto, a mesma fonte espera alcançar os objectivos preconizados com este projecto e ter, por um lado, uma boa adesão por parte dos reclusos e contribuir para maior humanização nas prisões.
Por seu turno, a ministra da Justiça, Joana Rosa, afirmou que receberam este projecto com “muito carinho” porque nunca é possível um trabalho de reinserção social verdadeiramente focado no recluso, sendo homem ou mulher com privação de liberdade, sem que haja uma cooperação e solidariedade das instituições, sociedade civil e pessoas individuais.
No entanto, Joana Rosa prognosticou que este projecto vai desenvolver-se porque vai trazer frutos que certamente vai tirar “bons resultados” mais à frente.
“Este projecto ajuda-nos a fazer uma reflexão do papel de cada um de nós, mas da própria sociedade e entender quando nós muitas vezes falamos da necessidade de trabalharmos numa reinserção social virada para humanização das cadeias e respeito para os direitos humanos”, assegurou a ministra.
Além disso, a responsável pela pasta da Justiça elucidou que se fala e critica-se muito a nível da reincidência criminal e esquece-se que para trabalhar a reincidência criminal há medidas de políticas que têm que ser adoptadas e que estas pessoas são seres humanos que perderam a liberdade, mas não a dignidade da pessoa humana.
Com isto, sustentou Joana Rosa que o Governo tem por esta via a obrigação de preparar os reclusos para a vida fora e trabalhar também na reincidência criminal tanto dentro como fora das grades.
“Temos que preparar os reclusos para quando saírem para fora das grades terem a noção e o arrependimento do mal que fizeram à sociedade e incentivá-los para escolherem outro caminho e não a criminalidade”, sublinhou a ministra da Justiça.
Por outro lado, acrescentou também que este projecto serve para estimular várias aptidões que vão surgindo aos reclusos de todos os estabelecimentos prisionais de uma forma faseada dada a condição arquipelágica.
Joana Rosa lembrou igualmente que recentemente lançaram uma cooperação com igrejas, associações e sociedade civil com “projectos importantes” virados para a reinserção e reintegração social dos reclusos, com formação profissional, para evitar estigmas e orientar para o auto-emprego.
O projecto em causa vai abranger os cinco centros prisionais do país, nomeadamente as Cadeias Centrais da Praia, do Mindelo e do Sal, e as Cadeias Regionais do Fogo e de Santo Antão.
O Projecto “Vozes falam por detrás das grades”, coordenado por Lena Marçal em parceria com o Ministério da Justiça, é um projecto que se quer inclusivo pois na sua essência tem como objectivo principal incluir os reclusos, homens e mulheres privados da liberdade por razões várias, nas actividades artístico literárias, dando aos mesmos a oportunidade de expressarem através da escrita, os seus pensamentos, sentimentos, emoções e vivências. Dando assim à sociedade a oportunidade de conhecer as vidas por detrás das grades.
A Semana com Inforpress