Com o desaparecimento físico do poeta e romancista, Teobaldo Virgínio, Jorge Carlos Fonseca considera que a cultura cabo-verdiana, em especial a literatura, fica mais pobre. “Foi uma figura que encarnava o modelo do intelectual cabo-verdiano do seu tempo: homem viajado, conhecedor do mundo, escritor e amante do seu torrão natal. A situação e os problemas da sua terra-mãe foram uma constante preocupação para este escritor santantonense, na esteira de outros, como Manuel Lopes ou o seu irmão Luís Romano”, aponta na nota.
Em São Vicente, São Nicolau, Angola e nos Estados Unidos, onde viveu ultimamente, Teobaldo Virgínio manteve-se sempre atento aos destinos das suas ilhas, colocando nos seus livros histórias da emigração, páginas do quotidiano dos seus conterrâneos, que haveriam de influenciar novas gerações de escritores.
“Na prosa ou na poesia, o olhar atento e interessado de Teobaldo resultava na abordagem de temas sociais e políticos, trazendo pedaços de vida das ilhas, em forma de arte, numa cumplicidade com os destinos das suas personagens, construídas com emoção e guiadas pelo longo braço da esperança. Ainda quando dramática chamava à seara vermelha desventrada”, ressalta, JCF, acrescentando que com a sua morte, perde-se um poeta e romancista, mas sobretudo um grande comunicador, na esteira de outros intelectuais que ajudaram a compreender os destinos dos homens e mulheres de Cabo Verde, engrandecendo a sua cultura, no reforço do seu amor pela terra-mãe.
“Vai-se o poeta, com a sua saudade - na saudade de lembrar (que é dos meninos que andavam a brincar?) - e pena de não poder regressar, mas fica-nos a obra e a sua voz fresca e o olhar apaixonado pelas letras, cujo brilho cintilou, menino, até aos últimos dias da sua provecta idade. Mesmo não tendo regressado fisicamente, Cabo Verde nunca saiu de Teobaldo Virgínio. E o poeta nunca deixou as suas ilhas”, expressa.
Vida e obras do escritor
Conforme escreve António Miranda na sua página pessoal, Teobaldo Virgínio Nobre de Melo é natural da ilha de Santo Antão, de Cabo Verde, onde nasceu em 21 de Maio de 1924. Aposentado, vinha vivendo, há anos com a família, nos Estados Unidos da América do Norte. O rol das suas pro-fissões inclui a de pastor evangélico, poeta, ficcionista, director da revista Arquipélago (EUA) e colaborador em outros órgãos de imprensa como Presença Crioula, Morabeza, Revue Noire, Notícias do Imbondeiro (Angola) e Coluna do Norte (Brasil). De temática cabo-verdiana, a sua fonte perene, já publicou, em prosa e verso, doze volumes, dos quais os dois últimos saíram em Março de 2010: Folhas da Vida - poesia; Gaudêncio, o Filho Errante - prosa.
À família enlutada de Teobaldo Virgínio, a equipa do Jornal Asemana endereça as suas sentidas condolências.