"Impondo-se reconhecer e, pelo merecido enaltecimento, estimular e projetar o extraordinário trabalho da comunidade de São Filipe", lê-se no decreto presidencial, de 19 de abril e consultado hoje pela Lusa, com a atribuição do primeiro grau da Medalha de Mérito de Cabo Verde.
O concelho da Praia tem quase 98 quilómetros quadrados de área e uma população de mais de 145 mil habitantes - quase um terço da população do arquipélago -, segundo o último recenseamento realizado pelo Instituto Nacional de Estatística, sendo a Achada de São Filipe um dos bairros mais populosos da capital.
O mesmo decreto presidencial realça que "o esforço de minimização de dificuldades que os cabo-verdianos sentem no dia-a-dia dos seus bairros é da responsabilidade de toda a sociedade", sendo "dever de todos contribuir com suas tenacidades e habilidades, para a criação de oportunidades de desenvolvimento" das respetivas localidades.
"A assunção deste dever é bem a marca da comunidade de São Filipe, na cidade da Praia, na verdade o motor da sua notável dinâmica social. No seio dela, homens e mulheres, no querer mudar o rumo adverso circundante e melhorar as suas condições de vida, e dos seus familiares, exercitam a sua cidadania ativa, designadamente realizando ações e empreendimentos comunitariamente relevantes e promovendo a cultura da paz e da tolerância por um Cabo Verde mais próspero e justo, com oportunidades para todos”, refere-se.
Segundo o decreto, trata-se de “um caso de sucesso e absolutamente exemplar que, por conseguinte, merece ser destacado e enaltecido".
No documento enfatiza-se igualmente a importância da solidariedade social, das organizações da sociedade civil, dos grupos de jovens sob diversas linhas de motivação, desde a religião, à cultura e ao desporto, em cada bairro, para melhorar o "desempenho cívico e ambiental" dos centros urbanos.
Essa distinção visa recordar que a prática social de cooperação mútua é "intrínseca" ao processo histórico e de desenvolvimento de Cabo Verde, "parte ativa da nossa memória coletiva, com grande alcance social" na vida das pessoas e das comunidades locais, sobretudo as economicamente mais desfavorecidas.
"Independentemente da maneira de a percecionar, a contribuição associativa é incontornável na vida das pessoas em Cabo Verde, encontrando-se a expressão maior de ’djunta mó’ [dar as mãos], por exemplo nos trabalhos de campo, na construção de casa própria, no auxílio de vizinhança, na alegria do nascimento e tristeza da perda", refere-se no texto da condecoração.
Lembra-se ainda que com o desenvolvimento demográfico, que conheceu um "grande impulso" a partir da década de 1990, a sociedade cabo-verdiana tornou-se cada vez "mais urbana e costeira", impondo novos desafios e necessidades de ajustes das políticas públicas.
A Semana com Lusa