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Primeiros tempos da República em Cabo Verde foram quentes e até tiveram duelos 14 Fevereiro 2023

A transição da monarquia para a república em Cabo Verde contou com os mesmos períodos acalorados que em Portugal e até duelos entre elementos das várias fações que entretanto surgiram, revela um livro inédito sobre este período da história cabo-verdiana.

Primeiros tempos da República em Cabo Verde foram quentes e até tiveram duelos

Só não houve mortos. Houve muitas acusações verbais e até um duelo entre alguém que veio a ser ministro das Colónias em Portugal, o Carlos Eugénio de Vasconcelos”, disse Maria de Lurdes Caldas, autora do livro “A implantação da República em Cabo Verde” que será lançado na quarta-feira no Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV), em Lisboa.

Em declarações à agência Lusa, a investigadora referiu que os primeiros passos da república portuguesa foram seguidos em Cabo Verde com igual entusiasmo.

Em Cabo Verde, como em outros estados ultramarinos, enviávamos os governadores para os territórios, mas as suas elites faziam a intermediação entre o centro imperial e a própria colónia”, disse.

A obra dá conta da receção da república em Cabo Verde pelos cabo-verdianos – muito parecida com a que houve em Portugal – e revela alguns aspetos peculiares como o duelo entre Carlos Eugénio de Vasconcelos e o futuro deputado Francisco Velhinho Correia que ocorreu na praça principal da cidade da Praia, na ilha de Santiago.

O combate aconteceu após Vasconcelos ter esbofeteado Velhinho em resposta a alguma coisa que este terá dito.

Velhinho Correia não se pode defender, mas desafiou-o para um duelo”, o qual acabou em poucos segundos, porque o desafiador ficou ferido na cabeça. Os dois republicanos acabariam por se tornar amigos e deputados.

Segundo Maria de Lurdes Caldas, este foi um período “muito vivido”, em que “a novidade era total”.

Quando se dá a cisão do Partido Republicano Português (PRP), que resultou no nascimento de três novos partidos, estes registaram “a mesma conflitualidade que se viveu em Portugal”.

As coisas viviam-se com a mesma intensidade do que em Lisboa, porque as suas elites [cabo-verdianas], grande parte delas ilustradas, mantinham-se muito a par do que se passava no Portugal continental e levavam para Cabo Verde as suas referências políticas e culturais e, em Lisboa, faziam a denúncia da situação, muitas vezes calamitosa”, que se vivia no arquipélago, sobretudo aquando das grandes fomes dos anos 1940 do século XX.

A diferença teve a ver com a dimensão do arquipélago que levou a que esse impacto se manifestasse no relacionamento entre primos, às vezes irmãos e, muito frequentemente, entre tios e sobrinhos.

A investigadora dá conta de uma liberdade de imprensa “total, antes e depois da implantação da república”, situação que se inverteu com o Estado Novo (1933-1974).

Uma liberdade que possibilitava os frequentes insultos nos jornais, adiantou.

Maria de Lurdes Caldas sublinhou neste percurso a importância da ilha do Fogo, que “forneceu muitos homens”, não só ao poder e instituições em Cabo Verde, mas também em Portugal.

Para a investigadora, o referendo cultural cabo-verdiano “é predominantemente europeu, apesar das tendências a que agora se assiste de tentar africanizar à força Cabo Verde”. A Semana com Lusa

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