“A ideia foi inspirada nas melhores práticas, nos exemplos internacionais que já existem, o famoso Passeio da Fama, em Los Angeles, Hollywood”, começou por contextualizar à Lusa o ministro da Cultura e Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente.
O projeto, há muito sonhado por aquele Ministério, arrancou em 2021, numa primeira vaga com cerca de 40 nomes, e hoje já conta com mais de 60, na Rua de Lisboa, a mais emblemática da cidade do Mindelo, na ilha do São Vicente, a segunda mais populosa do país.
“Escolhemos o Mindelo porque é conhecido como um dos mais destacados berços da cultura cabo-verdiana, porque é o berço da Claridade, porque tem uma história de força cultural e escolhemos a Rua de Lisboa porque é a mais conhecida do Mindelo , a Rua do Carnaval e os grandes debates políticos do quotidiano do Mindelo e um local onde lhe daria grande visibilidade", acrescentou.
Os nomes estão gravados em bronze e embutidos em pedra cabo-verdiana, ao custo de 200 euros cada, e foram executados no Atelier Piká Pedra, onde dois artesãos - Albertino Silva e Davidson Almeida - dão muitas formas e vidas às pedras cabo-verdianas.
Ao longo do percurso, há a particularidade, por exemplo, dos nomes das músicas serem acompanhados por microfone, enquanto os escritos a caneta, estendendo-se pela rua mais movimentada do Mindelo, chamando a atenção de quem por ali passa.
Foi o caso de Aguinaldo Cabral, natural de São Nicolau, que viveu muitos anos em São Vicente na década de 1980 como estudante e agora, de passagem pela ilha de Monte Cara a trabalho, "pisou" na promenade e cumprimentou o projeto.
“Este projeto é de louvar, de reconhecer o mérito dos artistas por Cabo Verde”, frisou, incentivando a continuação da ideia. “Porque os artistas são a alma da nossa ilha, do nosso país, principalmente os que estão aqui na terra, mas é de louvar também os que vivem no estrangeiro, na diáspora, que também é rica em artistas”, mostrou o São Nicolau, com pressa na Rua de Lisboa e adjacências.
Entre os nomes estão os já falecidos Cesária Évora, Ildo Lobo, Eugénio Tavares, B. Leza, Manuel de Novas, Norberto Tavares, Bana, Celina Pereira, Nha Nancia Gomi, ou os ainda vivos Germano Almeida, Paulino Vieira, Tito Paris, Arménio Vieira e Vasco Martins.
Entretanto, no início o projeto não foi consensual, gerando algumas críticas em São Vicente, justamente porque os nomes estavam gravados no chão e por não incluir artistas de teatro.
"Nada é consensual em Cabo Verde. É difícil fazer coisas novas num país pequeno como Cabo Verde se esperarmos pela unanimidade”, sublinhou a ministra da Cultura, indicando que o único consenso inicial foi homenagear pessoas já falecidas.
Garantindo a continuidade do projeto, lembrou que, ainda assim, na primeira leva foram homenageadas algumas figuras que ainda estão vivas, mas que já têm carreiras consolidadas, em que foi escolhido o pé, por ser um dos símbolos que representam Cesária Évora, conhecida como a "Diva dos Pés Descalços".
“Nossa ideia é chegar a um ponto em que artistas vivos possam ser anualmente homenageados na mesma cerimônia, como é feito em Hollywood, onde grandes artistas que chegam ao topo presenciam a colocação de seu nome como forma de consagração total de suas carreiras”, desenhou a manchete da pasta Cultura em Cabo Verde.
Abraão Vicente apercebeu-se também que existe uma lista com mais de 150 figuras identificadas, que continuarão a ser “indispensáveis” na cultura cabo-verdiana, na música, pintura, teatro, artes plásticas.
Pelo contrário, revelou que foi colocado o nome do realizador, escritor, artista plástico e professor cabo-verdiano Leão Lopes, mas devido a uma espécie de "desentendimento conceptual" pediu para ser retirado.
“Não é um grande incidente, porque optamos no primeiro passo por surpreender a cidade e acredito que a maioria das pessoas ficou feliz”, disse, deixando claro que se trata de “um projeto cabo-verdiano no Mindelo”.
Para o governador, o maior desafio está na conservação do passeio em cimento e não na própria estrutura, num “grande investimento” cuja ideia é que mais tarde seja assumida pela Câmara Municipal de São Vicente.
O ministro sugeriu ainda a criação de um projeto semelhante noutra ilha, mas para as “estrelas” de hoje. “Cabo Verde precisa de criar esse encanto para homenagear”, entendeu, dizendo que são projetos “que nunca acabam” que aumentam a auto-estima destes artistas e contagiam outros a fazerem o mesmo.
A Semana com Lusa