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REPORTAGEM: Noruegueses chegam a Cabo Verde “para ficar” além da produção de atum em aquacultura 24 Abril 2023

Noruegueses decidiram implementar um projeto de atum em aquacultura na ilha cabo-verdiana de São Vicente, mas não querem ficar apenas por esse negócio e muitos já pensam em fixar residência e fazer outros investimentos no arquipélago.

REPORTAGEM: Noruegueses chegam a Cabo Verde “para ficar” além da produção de atum em aquacultura

“Eu gosto muito daqui. Gostaria de trazer a minha família para aqui no futuro. Hoje estou só eu aqui, mas se tivermos sucesso, queremos trazer algumas famílias para aqui, mas a maioria dos trabalhadores têm de ser cabo-verdianos”, disse à Lusa Halvor Hodnifgill, um dos parceiros noruegueses do projeto.

O Governo de Cabo Verde autorizou a concessão por 50 anos de uma área na orla marítima de 236.000 metros quadrados (m2) na praia de Flamengo, em São Vicente, a favor da Nortuna Holding CV, para criar uma unidade de produção de atum em aquacultura.

A empresa do grupo norueguês Nortuna chegou a Cabo Verde em 2019 e dois anos depois começou a construção dos estaleiros para o projeto “Nortuna Atlantic Blue Fin Tuna” na praia no sudoeste da ilha, que fica a 11 quilómetros da cidade do Mindelo e a 2,5 quilómetros de São Pedro, localidade onde fica situado o aeroporto internacional Cesária Évora.

Halvor Hodnifgill não tem dúvidas que Cabo Verde foi a melhor escolha, por causa do seu clima estável e por também ter um mercado capaz de fornecer mão-de-obra para suportar as futuras fábricas de transformação de pescado e de gelo, outras das componentes do projeto.

“Achamos que isto é melhor para a fábrica, boa mão-de-obra, precisamos de muita gente para trabalhar na fábrica no futuro”, perspetivou o responsável, que se apaixonou por Cabo Verde logo na primeira viagem e quer ficar no país por muito mais tempo.

“Vamos ficar aqui por muitos e muitos anos. Não sei se volto por três ou seis meses, mas muitos outros noruegueses vão ficando aqui, vamos rodando”, completou a mesma fonte, que destacou o apoio do Governo e das autoridades cabo-verdianas em todo o processo.

O norueguês deu conta que o grupo já investiu cerca de 10 milhões de euros no projeto, e que o valor ainda vai aumentar com a implementação das restantes valências, neste que é o segundo maior negócio na Noruega, depois do petróleo.

Para a concretização do projeto, os sócios da norueguesa Nortuna criaram uma empresa com sede na ilha de São Vicente, a Nortuna CV, formalizada em outubro de 2020.

Um dos responsáveis pelo projeto em Cabo Verde foi Luís Rodrigues, cabo-verdiano que trabalhou durante cerca de 50 anos em companhias norueguesas de produção de petróleo e praticamente “desviou” a ideia das Canárias para o país, para onde também regressou agora, sendo o diretor da empresa no arquipélago africano.

“Nós estamos aqui para ficar. Há colegas que vieram e compraram apartamentos aqui, têm as suas famílias, os seus filhos vão para as escolas cabo-verdianas no Mindelo, eu também vim para ficar com a minha família, todos gostam de Cabo Verde”, elogiou Rodrigues.

Em Cabo Verde, o projeto ainda apanhou a fase crítica da pandemia da covid-19, mas o diretor destacou o apoio do Governo e de outras instituições cabo-verdianas, embora lamentando alguma burocracia e dificuldades com transportes, mas que não têm impedido a ideia de avançar.

O diretor residente deu ainda conta do aumento do número de pessoas que querem visitar os estaleiros para conhecer a ideia.

“Estamos satisfeitos. E temos os nossos biólogos de Cabo Verde, que colaboram com os da Noruega, mas com o tempo são os cabo-verdianos que vão gerir todo este projeto”, sustentou o mesmo responsável, que não quer parar por aqui.

“Queremos fazer colaboração com as escolas marítimas aqui para formar pessoas numa linha de aquacultura e também contribuir para os nossos vizinhos africanos que podem vir para Cabo Verde e estudar na área da aquacultura e segurança”, apontou.

O atum-rabilho (Thunnus thynnus), que pode ultrapassar os 200 quilogramas por peixe, é considerado o “rei” do sushi e apresenta, recorda a empresa, o valor mais alto de mercado, com o Japão a garantir 60% das compras.

Trata-se de uma espécie classificada como ameaçada e o excesso nas capturas no Atlântico e no Pacífico levou várias empresas a apostarem em produção certificada através de aquacultura.

A unidade prevê ser das maiores exportadoras de Cabo Verde dentro de três anos, quando atingir a marca de 10.000 toneladas de atum-rabilho do atlântico (Atlantic Blue Fin Tuna ou ABFT) produzidas em aquacultura localmente.
A Semana com Lusa

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