A longa-metragem abriu o Festival de Cinema Brasileiro em Hollywood, que decorre até sábado, e o cineasta falou à Lusa à margem de uma exibição do filme, que retrata as grandes salas de cinema no Recife no século XX e o seu impacto social e cultural.
“Estou a viajar com ‘Retratos Fantasmas’ e na França, nos Estados Unidos, em Portugal e no Brasil vejo muita gente jovem nas salas”, afirmou. “Há um lado muito otimista que eu tenho, e digo isso como alguém que programa salas de cinema”.
Kleber Mendonça Filho, aclamado por filmes como “O Som ao Redor” (candidato do Brasil às nomeações nos Óscares 2014), “Aquarius” e “Bacurau”, disse entender a discussão pessimista sobre o futuro das salas de cinema, numa altura em que as bilheteiras ainda estão a tentar recuperar para níveis de 2019.
“Estamos a viver um momento muito particular, com a chegada do ‘streaming’ e o pós-pandemia, mas o facto é que eu sou um programador de sala e nas nossas sessões mais especiais a maior parte do público é gente muito jovem”, frisou.
A experiência do cinema, retratada no filme que o Brasil escolheu para tentar a nomeação aos prémios da Academia de Hollywood, é comparada a algo místico, mágico, quase espiritual.
Isso tem justificado o bom desempenho de “Retratos Fantasmas” não apenas no mercado brasileiro, onde se tornou “um ‘míni-blockbuster’”, como descreveu Kleber Mendonça Filho, mas também no circuito de festivais internacionais. Em Portugal, estreou-se no final de agosto.
“O denominador comum é que o cinema é uma língua universal”, afirmou o cineasta. “O filme foi feito no Recife, a partir do meu ponto de vista, em Pernambuco. Mas Recife, como Los Angeles, Londres, Paris, Rio de Janeiro, Lisboa, tiveram uma rede de cinemas que eram pontos de venda que também vendiam imagens e sonhos”.
A magia da sala transporta as pessoas para um mundo de fantasia, e como o filme documental se baseia em grandes palácios do cinema do passado, há uma componente de nostalgia. “Ele traz as memórias que cada um tem do seu lugar, e isso é muito interessante”, considerou o cineasta.
A ideia de fazer este filme, que desenterra décadas de vídeos e fotografias, foi solidificada numa viagem que Kleber Mendonça Filho fez a Los Angeles há 11 anos e onde visitou quarteirões de grandes salas de cinema abandonadas. Um “cemitério” da velha glória de Hollywood.
A escolha do filme pela Academia Brasileira de Cinemas e Artes Audiovisuais para a campanha dos Óscares deixou o cineasta feliz e empenhado na sua promoção.
“Estou aqui a mostrar o filme e cada vez que ele passa parece fazer novos amigos”, afirmou. “Sinto-me bem aqui, confortável, a representar o Brasil com esse filme”.
Olhando para o presente da Sétima Arte, o cineasta considerou que o “cardápio” de filmes tem sido limitado e marcado pelo cinema comercial e de super-heróis. “Mas talvez isso já se esteja a esvaziar agora”, continuou.
Os altos e baixos das bilheteiras – uma volatilidade que esteve patente no primeiro semestre de 2023 – talvez sejam uma questão cíclica, apontou, mais que indícios de declínio.
“No meu cantinho do mundo, acho que a gente está num momento interessante de novas gerações em descoberta, com uma voracidade muito grande”.
As nomeações aos Óscares vão ser conhecidas a 23 de janeiro de 2024, com a cerimónia marcada para 10 de março. “Retratos Fantasmas” concorrerá à nomeação na categoria de Melhor Filme Internacional.
A Semana com Lusa