O tribunal ouviu a acusação sobre a responsabilidade do autarca que alegadamente esteve a comandar os ataques. Por fim tomou a medida, mitigada para 20 anos de cadeia, contra a prisão perpétua pedida pela acusação. É pois evidente que um mesmo facto tem duas leituras. O facto de o autarca ter oferecido a dezenas de milhares de Tutsis refúgio seja na igreja de Kibeho que depois foi incendiada com as vítimas dentro. Ou o facto de a escola técnica de Murambi ter sido invadida por hutus com catanas e armas de fogo.
O juiz entendeu que a autoria dos dois massacres não pode ser imputada ao autarca, à luz dos elementos, "insuficientes", apresentados pela acusação.
A decisão do tribunal caiu mal tanto ao CPCR-Coletivo das Partes Civis para o Ruanda, como a uma familiar de vítimas que expressou: "No dia 13 de abril, o presidente de câmara organizou uma reunião em que estavam convocados os autarcas. Como por acaso, Kibeho foi atacado na manhã seguinte. Então não há rrelação de causa e efeito?", questiona indignada a co-presidente do CPCR, que perdeu várias pessoas da sua família no incêndio na igreja de Kibeho.
O Ministério Público afina pelo mesmo diapasão: "Este homem não matou ninguém, mas o sangue de todas as vítimas está nas suas mãos", disse a magistrada Cécile Viguier, que pediu a pena perpétua.
Desafiante contexto de genocídio, 20 anos à espera
Vinte e oito anos decorridos sobre o genocídio, a reconstituição de todos os elementos factuais,exigiu dois meses de audiências, peritagens cientíificas, 115 testemunhas que descreveram "crimes contra a humanidade marcados por uma violência inaudita".
A queixa foi apresentada em 2002, mas a lentidão dada a burocracia ditou o arrastar do caso durante mais vinte anos.
Francofonia
No mesmo dia do veredicto em Paris, esta terça-feira, acontecia em Kigali o Fórum Económico da Francofonia com a presidente Louise Mushikiwabo a desafiar os mais de cem participantes de 25 países no (foto em baixo) a explorarem as oportunidades desse vasto mercado.
A SG da OIF, após ter sido ministra de várias pastas entre elas a dos Negócios Estrangeiros, preside em Kigali — de segunda-feira 11 a quarta 13 — ao encontro de cariz económico.
Na foto (mais à esqª), o PR Paul Kagame com Richard Sezibera, o substituo de Louise Mushikiwabo no MNE.
O Presidente da República do Ruanda — a sarar das feridas do genocídio de 1994 —escolheu como o novo chefe da diplomacia Richard Sezibera). A escolha deste ex-ministro da Saúde e ex-presidente da EAC- Comunidade Económica da África Oriental foi bem recebida, ao contrário da demissão do ministro da Defesa.
James Kabarebe é para muitos um herói nacional, que pôs fim à guerra do Ruanda ao resolver o conflito étnico que originou o genocídio de oitocentos mil tutsis e hutus moderados. Co-fundador da RPF-Frente Patriótica do Ruanda, viabilizou a eleição do atual presidente em 2000.
“Indefectível de Paul Kagame”
“Sem ele, Paul Kagame não teria chegado à presidência”, disse em entrevista à Reuters o académico francês Gérard Prunier, especialista que nos últimos 25 anos tem estudado os conflitos que assolam a região da África Central.
O reconhecimento internacional do Ruanda, por ser o país africano de maior sucesso económico (rendimento a triplicar em dez anos) e pela sua integração internacional, pode ser demonstrado por factos.
Um, a capital, Kigali, é a primeira cidade africana a ser galardoada com o ’Habitat Scroll of Honor Award’ que reconhece a sua "limpeza, segurança e conservação urbanas". Outro, há dez anos tornou-se o primeiro país a eleger uma legislatura nacional maioritariamente formada por ministras. E terceiro, em resultado do bom aproveitamento das condições naturais do país, que proporciona o contacto com a abundante vida selvagem, como os raros gorilas-das-montanhas, o Ruanda regista nos últimos anos um importante desenvolvimento turístico.
Fontes: Reuters/Le Figaro/Daily Nation.ke. Fotos: Autarca condenado em Paris. Comunidade Britânica reunida em Kigali há um mês.