Cada edição do Festival Literatura Mundo do Sal é marcada por homenagens distintas, e este ano as escolhas recaíram sobre a linguista cabo-verdiana Dulce Amada e o escritor italiano Antonio Tabucchi.
Nesta medida, a programação do evento literário reservou três sessões de elogios, em momentos diferentes, quinta-feira, sexta e sábado, para recordar estas figuras do mundo literário.
Assim, Amália Lopes, Filinto Elísio e Adelaide Monteiro discorrem sobre Dulce Almada, enquanto Clara Silva, Luca Fazzini, Marco Piazza e Roberto Francavilla, sobre Antonio Tabucchi.
Se Maria Dulce de Oliveira Almada Duarte estivesse entre nós, completaria 90 anos, em Agosto deste ano.
Ao recordar Dulce Duarte, como é conhecida, a também linguista Amália Lopes conta que apesar da diferença de idade entre as duas, o respeito e reconhecimento com Dulce Duarte eram mútuos.
“O meu respeito e reconhecimento para com Dulce Duarte advêm de dois campos distintos: o seu percurso de vida como Combatente da Liberdade da Pátria e os seus trabalhos linguísticos. A amizade essa emergiu, espontaneamente, de múltiplas interacções”, conta, lembrando que a sua primeira experiência de apresentação de um livro, em Março de 1999, deve-se a Dulce Duarte.
Segundo Amália Lopes, Dulce Duarte, tanto quanto sabe, foi a primeira mulher cabo-verdiana, cientista na área da linguística, o que a tornou “especialmente inspiradora” para as mulheres que se lhe seguiram, no caminho que ela começou a pavimentar, respeitadora dos direitos humanos de natureza linguística, e mais “justa e equilibrada” para as duas línguas de Cabo Verde.
“Pelo poder que Dulce Duarte mobilizou, por via do seu conhecimento, generosidade, ética e afecto, e pelo impacto que as suas ideias de âmbito linguístico e cultural tiveram em muitos cabo-verdianos, e no próprio Cabo Verde, sobretudo no pós-Independência nacional, é uma honra poder testemunhar o meu reconhecimento por tudo o que ela significa, associando-me a esta homenagem que lhe presta esta 5ª edição do Festival de Literatura Mundo do Sal, minha ilha natal”, enfatizou.
Prestando-lhe, desta forma tributo, manifestando o seu respeito e exprimindo o seu agradecimento, Amália Lopes embala-se com satisfação, na partilha do legado que Dulce Duarte deixou.
O Presidente da República, José Maria Neves, que presidiu à cerimónia de abertura do Festival Literatura Mundo do Sal, congratulou-se, também, de a escolha para 2023 recair na linguista Dulce Almada, uma oportunidade, conforme disse, “sem paralelo”.
“Não só para a rememorarmos com toda a vénia que nos merece, mas para levantarmos questões da língua e da identidade, posto estarmos no dealbar da plena oficialização da língua cabo-verdiana e da realização constitucional do bilinguismo, que reza a paridade e a coabitação enriquecedora entre o português e o cabo-verdiano, dois elementos fundantes da nossa identidade”, exteriorizou o mais Alto Magistrado da Nação cabo-verdiana.
“Dulce Almada Duarte foi das grandes estudiosas da língua e da cultura de Cabo Verde e deixa um legado fundamental para o afrontamento linguístico-cultural que ora nos detém”, enfatizou.
Referindo-se também à “feliz escolha” de Antonio Taboucchi, José Maria Neves disse que estas duas homenagens “instigam-nos e convocam-nos a pensar e a olhar de modo especial, diverso e ousado”.
Na primeira edição, do Festival Literatura Mundo, os homenageados foram o cabo-verdiano Corsino Fortes e o português José Saramago; na segunda, o cabo-verdiano Mário Fonseca e o argentino Jorge Luís Borges; na terceira, a cabo-verdiana Orlanda Amarilis e o alemão Friedrich Goethe, sido também realizado um tributo ao escritor Oswaldo Osório, na quarta, o cabo-verdiano João Vário e o maliano Amadou Mpatê Ba; e nesta quinta edição, a cabo-verdiana Dulce Almada e o italiano Antonio Taboucchi.
A Semana com Inforpress