O presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz considera que a festa de Santiago Maior, santo padroeiro do concelho, está a decorrer bem e a movimentar a cidade de Pedra Badejo. Carlos Silva anuncia que o ponto alto da festa será a parte religiosa e cultural, com destaque para o Festival da Areia Grande, que termina hoje,22, com a participação de vários artistas. O autarca analisa que no mandato prestes a terminar, pôs foco na economia do município, com aposta forte no agronegócio, na pesca e no turismo. «Um grande projeto em que nós estamos a trabalhar para dinamizarmos todo o potencial do agronegócio é o dossiê Justino Lopes, que estamos a fechar com o Governo, os agricultores e os herdeiros dessa antiga propriedade agrícola», anuncia. Neste Especial sobre Santa Cruz e Festa de Santiago Maior, Sueck avança que até final do ano anunciará se irá se candidatar ou não a mais um mandato à frente da Câmara Municipal de Santa Cruz. Confira os detalhes na entrevista que se segue.
Entrevista conduzida por: Silvana Gonçalves/Redação
Como caracteriza neste momento o ambiente da festa de Santiago Maior, o santo padroeiro do concelho de Santa Cruz?
Está tudo a postos para a festa de Santiago Maior e do Município. Todo o programa está a decorrer da melhor forma possível. Temos atividades desportivas, que já estão na sua reta final e com data marcada para as finais. O ponto alto da nossa festa é a parte cultural, com destaque para o nosso grande Festival da Areia Grande que se realizou nos dias 21 e 22 de julho. Da nossa programação constam ainda várias atividades, nomeadamente encontro com a diáspora, que a Câmara Municipal tem vindo a realizar anualmente. Este ano vamos fazer um Jantar de Gala, em parceria com a paróquia local.
Vamos apresentar, pela primeira vez, à diáspora um produto novo, que tem a ver com um projeto imobiliário que consiste basicamente na venda de lotes de terrenos. Esta modalidade é um pouco diferente daquela que a nossa câmara tem vindo a implementar, ou seja, as pessoas vão poder comprar lotes com infraestruturas de base. Os lotes onde vão poder fazer as casas já incluem rede de água, de esgoto, de energia elétrica e estradas pavimentadas. É um projeto não só para a diáspora porque queremos também mobilizar pessoas de outros municípios para virem viver em Santa Cruz.
Conforme o programa elaborado, quais são os pontos fortes da festa de Nhu Santiago Maior 2023?
A nível político este ano não vamos ter a sessão solene, porque definimos que a partir deste ano esta passaria a ser feita sempre no mês de março, porquanto o município de Santa Cruz foi criado nesse mês. Assim, este ano realizámos a sessão solene em março, por ocasião da comemoração do dia da criação do município, 29 de março.
Nós queremos separar estas duas grandes datas: uma que é associada a um momento mais político, realizado no mês de março, e outra que é um momento mais religioso, que é a festa do nosso santo padroeiro, que se realiza no mês de julho. Estamos a separar estas duas celebrações. Vamos formalizar este dossiê, levando uma proposta neste sentido à Assembleia Municipal, devendo antes ser socializada com os munícipes.
Que mensagem dirige aos munícipes, emigrantes e outros festivaleiros que participam na celebração de Santiago Maior 2023?
A nossa mensagem é de que, além dos munícipes, nós consideramos sempre a diáspora como a nossa maior parceira. Esta tem dado grande contributo para o desenvolvimento sócio económico e cultural do município de Santa Cruz. Por isso, é sempre com imenso prazer que a Câmara Municipal realiza a festa de Santiago Maior pensando neles, porque é o momento em que a nossa diáspora vem visitar a terra, os familiares e fazer os seus investimentos. Por isso, nós queremos aproveitar esse momento para recebê-los da melhor forma possível, junto com os munícipes, festivaleiros de outros concelhos de Santiago e estrangeiros.
Processo de transformação de Santa Cruz
Com a atual legislatura prestes a terminar, como avalia o processo de transformação e mudança no município de Santa Cruz?
Estamos praticamente a caminhar para a reta final deste mandato, que vai terminar no próximo ano. Num contexto muito difícil temos conseguido fazer aquilo que é possível fazer. A câmara municipal é a instituição que promove e lidera o processo de desenvolvimento local, mas quem o faz são os próprios munícipes. Acredito que, na medida do possível e num contexto difícil, a Câmara tem se saído razoavelmente bem no processo de transformação e mudança no concelho de Santa Cruz. Em parceria com o Governo, outros parceiros e com os próprios munícipes, temos vindo a promover o desenvolvimento local. De um modo geral, o balanço até agora é positivo. Estamos a contar que no final do mandato vamos ter um desempenho positivo em todos os domínios.
Uma das grandes prioridades para este mandato é garantir água ao domicílio. Ainda no decorrer deste mandato, vamos levar o precioso líquido às zonas altas do concelho, que ainda carecem de água canalizada, através da rede pública. Já estamos a mobilizar recursos para levar a água para a casa das pessoas, nomeadamente nas zonas de Serrelo Rebelo, Monte Negro, São Cristóvão, Altos Abaixo, Matinho, etc. Estas são zonas bastantes distantes do centro da cidade e de difícil acesso.
Neste momento muitas pessoas vêm usando água auto transportada e numa situação bastante difícil. Pensamos também melhorar um pouco a distribuição de água na cidade de Pedra Badejo, porque há muitas famílias que precisam ter acesso à rede de água, bem como outras localidades como Achada Fazenda, Cancelo, meios urbanos com um número grande de população, e outras zonas de Santa Cruz. De um modo geral, queremos fechar este mandato a nível da água, atingindo os 100%, e a nível de saneamento, pelo menos chegar aos 80%.
Obras estruturantes realizadas e em curso
Que obras estruturantes a sua equipa realizou nos últimos anos no concelho?
O nosso foco neste mandato prestes a terminar tem sido na economia do município. Estamos a apostar forte no agronegócio, na pesca e no turismo e em outros setores. Um grande projeto, que nós estamos a trabalhar para dinamizarmos todo o potencial do agronegócio, é o dossiê Justino Lopes, que estamos a fechar com o Governo, com os agricultores e os herdeiros dessa antiga propriedade agrícola. O dossiê, que é muito complexo, já está em fase bastante avançada. Estamos a entrar já na reta final para podermos mobilizar investidores para financiar o novo projeto Justino Lopes, que será o motor do desenvolvimento económico do município de Santa Cruz. Acredito que, dentro de pouco tempo, estaremos a concluir este dossiê bastante importante para o desenvolvimento de Santa Cruz. Paralelemente a isso, estamos a trabalhar na criação da nossa Central de Compras, que é uma plataforma de comercialização de tudo aquilo que é produzido na região. Estamos necessariamente a falar também de um porto comercial e estamos também a trabalhar com os parceiros. Já temos uma equipa no terreno a trabalhar o «master plan», que já está praticamente feito, para a edificação da nossa zona económica. E já mobilizamos alguns investidores. Daqui a nada vai arrancar o maior matadouro de frango de Cabo Verde, aqui na nossa zona económica. Já negociamos com uma empresa espanhola a construção de uma fábrica de processamento de feijões e produtos hortícolas.
Temos também alguns projetos ligados ao turismo, com destaque para empreendimentos turísticos. Neste momento, há um empreendimento turístico em construção na zona de Achada Ponta e o Grupo Falucho já está bastante avançado com o projeto turístico na zona de Coroa. Já lançamos concurso para melhorarmos a estrada que liga Achada Fazenda/Achada Ponta.
Ainda ligado ao agronegócio, no dia 18 de julho realizámos dois grandes eventos ligados ao agronegócio, que tem a ver com a água, porque como todo mundo sabe, o nosso maior desafio aqui em Santa Cruz é a falta do precioso líquido. Felizmente no dia 18 o Governo lançou (ver esta Especial) uma grande obra, que é um projeto de dessalinização de água do mar exclusivamente para rega. No mesmo dia também inaugurámos um sistema denominado projeto hidroagrícola da Ribeira dos Picos. Uma obra do Governo financiado pelo mesmo, com um investimento em torno de 70 mil contos. Tem por objetivo mobilizar água, fazer o seu tratamento e sua distribuição, melhorando o sistema de abastecimento de água para agricultura. Recebemos isso como uma grande prenda para o Município de Santa Cruz, que está neste momento em festa. Não vamos nos focar só na mobilização de água, também vamos apostar fortemente na capacitação, qualificação e formação, sobretudo dos nossos agricultores e criadores de animais.
A nível da pesca recentemente foi inaugurada uma fábrica de produção de gelo, com capacidade para 20 toneladas de gelo por dia. Neste momento, estamos a trabalhar na instalação de um sistema fotovoltaico, porque tem um volume de consumo de energia muito grande. Só para ter uma ideia, uma fatura da Electra mensal ronda os 500 contos. Daí a aposta no sistema fotovoltaico para reduzir o custo de consumo de energia, senão o gasto será insustentável, ou o preço de gelo tem que aumentar ou a fábrica deixa de funcionar. Se queremos desenvolver este país temos que aproveitar os recursos que nós temos, como a água do mar, o sol e o vento. Acredito que já começamos a entrar no caminho do futuro, que é apostar fortemente no tratamento da água, que é o nosso maior problema, com recurso a energias renováveis.
Vamos ainda apostar na requalificação urbana e ambiental. Neste momento, temos em curso obras de melhoramento de vias de acesso, calcetamento de ruas e melhoramento de vias em várias localidades do município. Está no programa de celebração de Nhu Santiago a inauguração de algumas obras (ver este Especial).
Quanto à festa, no ano passado foi realizada, mas de uma forma um pouco tímida. Este ano estamos a tentar atingir o nível que a nossa festa atingiu antes da pandemia. Este ano vai ter uma roupagem melhor, mas acredito que em 2024 estaremos a celebrar da melhor forma possível esta festa religiosa.
Mandato difícil e investimentos de emigrantes e estrangeiros
Embora num contexto muito difícil, cumprimos o mandato. Cabo Verde viveu muitos anos consecutivos de seca, além do impacto negativo da pandemia de covid19 e agora os efeitos da guerra na Ucrânia, que está a afetar o mundo inteiro. Ou seja, mesmo perante aquilo que é chamado de tripla crise, conseguimos realizar algumas obras interessantes. No domínio do desporto, inauguramos, por exemplo, um dos melhores estádios municipais em Cabo Verde. O Centro Cultural Sema Lopi está praticamente na reta final e vai ser inaugurado nesta quadra festiva, no dia 23 ou 28 de julho.
O que espera dos emigrantes e empresários de Santa Cruz no processo de desenvolvimento local?
Quem faz o município são os próprios munícipes. A câmara municipal tem que criar as condições institucionais, que passam pela criação de incentivos e de um ambiente propício para que os munícipes possam também dar a sua colaboração. E nós, Câmara Municipal de Santa Cruz contamos fortemente com a diáspora. Basta ver que quem explora o restaurante e o hotel Falucho é um emigrante. A mesma unidade está a negociar a transformação do prédio Bulimundo num hotel de 4 estrelas. Temos o hotel de Achada Ponta que está em construção, que é de um investidor estrangeiro.
A fábrica de gelo é igualmente de um investidor estrangeiro. Já temos uma fábrica de farinha com capacidade para produzir 15 toneladas por dia, que é também é de um estrangeiro. Ou seja, estamos a mobilizar nacionais, santa-cruzenses e estrangeiros que estão a investir em Santa Cruz. E há muitas pessoas que estão a procurar o concelho para realizar investimentos e nós queremos tornar isso cada vez mais acessível.
Candidatura à Câmara Municipal e desafios da próxima legislatura
Falta praticamente um ano e quatro meses para a realização das eleições autárquicas de 2024. Está disponível para concorrer a mais um mandato à frente da Câmara Municipal de Santa Cruz com o apoio do PAICV?
O que posso adiantar agora é que estou focado em terminar este mandato. Falta pouco mais de um ano para o término desta legislatura e neste momento estou preocupado em continuar a trabalhar e tentar, na medida do possível, encontrar soluções para os grandes problemas locais. Ao mesmo tempo, tenho estado a ponderar se vale a pena ou não pensar numa outra candidatura. Mas até este momento não tomei uma decisão. Não vou dizer nem sim, nem não, porque tenho primeiro que fazer as contas, ver onde estamos e se vamos corresponder, pelo menos até o final do ano, às principais expectativas das pessoas. Temos que ver se o nosso lema “Santa Cruz acima de tudo” está no caminho certo e se aquilo que temos vindo a fazer está em coerência com o nosso próprio lema. De modo que até o final deste ano pensamos que estaremos em condições de pronunciar se vamos pensar numa recandidatura ou não ao cargo de presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz.
Se confirmar a sua recandidatura, quais serão na próxima legislatura os principais desafios da equipa que vai liderar?
Nós temos consciência de que mais do que nunca a tarefa requer cada vez mais pessoas com experiência, maturidade e conhecimento. É que cada vez mais temos mais desafios para o desenvolvimento local. Hoje governar um município como Santa Cruz é bastante exigente, porque as pessoas querem tudo na hora e ao mesmo tempo. Isso não é assim tão fácil num contexto difícil. Por isso que, independentemente da decisão tomada, Santa Cruz tem que estar acima de qualquer outro interesse.
Visão para o futuro do concelho
Com que visão perspetiva o desenvolvimento futuro de Santa Cruz?
Estamos a perspetivar um bom desenvolvimento no município de Santa Cruz. A aposta que estamos a fazer hoje, temos toda a certeza, irá dar bons frutos. Digo sempre que o desenvolvimento tem que ser visto numa lógica sistémica: um por todos, todos por um. Temos que ver o desenvolvimento sobretudo como uma sementeira. Mas não aquela sementeira em que se semeia hoje e se colhe logo amanhã. Tem que ser muito mais do que isso. Estou seguro com a aposta que estamos a fazer na economia do município, porque se não criarmos a economia não vamos poder realizar o social, que é a saúde, a educação, o emprego, o rendimento para as famílias, a habitação, etc. Temos que criar riqueza e apostar na economia é fundamental.
Temos que dinamizar o setor da pesca, o agronegócio, que tem um forte potencial, e o turismo. Ou seja, temos que tentar explorar, no máximo, todo o potencial que o município dispõe. De outro jeito não vamos a lugar nenhum. Estamos a sacrificar um pouco algumas áreas, mas já elegemos a economia como prioridade e atividade número um. Isto porque todos os problemas que temos vindo a enfrentar, como falta de água, falta de alguns produtos alimentícios, remédios, entre outros, é facilmente resolvido com uma única solução, que é criar rendimento para as pessoas. Uma família que tem um rendimento mínimo consegue resolver as suas necessidades básicas. Nós estamos a apostar nisso e já está a dar alguns frutos. Temos estudos que nos dizem isso e que estamos num bom caminho.