Aqui a Inforpress conta a história de João Baptista Brito, nome de baptismo, mas mais conhecido pelo ‘nominho’ de João d´Auta, que ganhou devido à sua mãe Auta Maria Brito. Este “destemido” mindelense já passou por muitas “desventuras” na vida e agora, com 89 anos, encara a morte com naturalidade.
Tanta naturalidade, que há 18 anos, servindo-se da sua experiência de antigo carpinteiro/marceneiro e mesmo de “fazedor de caixões” em Cabo Verde e em São Tomé e Príncipe, decidiu construir o próprio caixão, onde quer ser enterrado.
“Eu já disse que quando morrer será com um pijama, não há calçar, não há nada, é pés descalços, cabeça na madeira, sem almofada, sem nada”, considerou este ancião, desejando assim um enterro “o mais simples possível” no seu caixão de madeira e com alças de corda.
“Se morrer aqui, é na minha arca azul que vou, como a chamo, mas se morrer fora, eu fico ali, não tem ‘transladada’, era ali que era o meu destino”, completou a mesma fonte, que também mostra tanta convicção por ser um dos fundadores do Racionalismo Cristão, em São Vicente.
João d´Auta confirmou ter fundado a segunda casa do Racionalismo Cristão, em Cabo Verde, depois da do Lela Martins, no Paul, e que tinha como instalações a própria casa, na Rua do Matadouro, e depois foi transferido para a zona de Monte Sossego, em 1974.
Essa doutrina, que se fortaleceu em si após regressar de São Tomé e Príncipe, onde viveu por mais de seis anos e onde também se revelou como Combatente da Liberdade da Pátria.
Essa terra em que muitos cabo-verdianos dizem ter passado por algumas agruras, mas que João d´Auta considera ter-lhe dado “tudo” o que tem agora, depois de ali ter ido parar para se esquecer de uma namorada.
Com 39 anos, São Tomé foi a terra que lhe acolheu e onde trabalhou como carpinteiro, fez negócios com produtos levados de Cabo Verde “mesmo que proibido” e ainda até montou um grupo musical, cuja primeira aparição em público foi a cantar mornas para receber a visita do Presidente da República portuguesa, Francisco Craveiro Lopes.
“Muita gente fala mal de São Tomé, mas eu não tenho razões de queixa, tudo que tenho hoje é fruto de São Tomé”, lançou João d´Auta, que acredita ter conseguido as coisas através da sua inteligência, com que até conseguiu produzir perfume para “vender aos angolanos” e outros negócios como de cerveja, brilhantina, mancarra, etc, que deram resultado e até permitiram juntar dinheiro e mandar para a mãe depositar no banco.
Depois desse “sucesso”, decidiu regressar a Cabo Verde e continuar os negócios e a sua profissão como carpinteiro, na sua terra, numa vida “estável”, mas que ainda não o impediu de emigrar para Holanda, mesmo que tivesse sido só por 14 dias.
Uma viagem que assegurou ter feito só por “insistência” de pessoas, que o perguntavam se não gostaria de ir “procurar vida” naquele país da Europa.
“Então fui, mas estava muito difícil e com 14 dias ali pedi à minha prima para me comprar a passagem de barco para regressar a São Vicente. Voltei via Portugal e passei por Madeira e aproveitei para fazer compras e abastecer a minha loja”, contou este sanvicentino, que nunca deixou a sua sorte por mãos alheias, e não é por acaso que também serviu como milícia e cabo-chefe de zona, tendo “apenas o 2º grau de ensino”.
“A minha vida é feita de muita história de dor, sofrimento e vitória”, descreveu, sentindo-se hoje “feliz”, já que queria ter uma casa própria, tem agora mais do que uma, tem alguns terrenos e três filhos ainda vivos.
“Hoje sinto-me realizado porque consegui a minha ambição, tenho a minha casa para dormir e tenho uma reforma como combatente e outra que chegam para levar a vida”, concretizou João d´Auta com uma expressão de orgulho. A Semana com Inforpress