Aguinaldo David falava à Inforpress, no Mindelo, no final de uma mesa de diálogo sobre “As biotecnologias aplicadas à reprodução e melhoramento dos caprinos: o caso da inseminação artificial com sémen refrigerado”, a qual encerrou uma formação de cinco dias destinada a médicos veterinários e engenheiros zootécnicos de São Vicente e dos três municípios de Santo Antão.

“Caberá às autoridades competentes criar as condições para que difundamos cada vez mais e melhor essa tecnologia, tendo em conta que ela tem o potencial de permitir ganhos fenomenais em avanços no melhoramento genético desejado para o caprino nacional”, concretizou Aguinaldo David.

É que, segundo a mesma fonte, da formação, dirigida pelo especialista em Biotecnologias de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa (Portugal), Nestor Chagas, saiu um corpo técnico de 12 elementos “devidamente capacitado e habilitado” para a implementação, “de forma mais alargada”, desta que é “a única biotecnologia de reprodução aceite pela produção biológica”.

Aliás, o director executivo da AAN reconheceu que a formação “ultrapassou todas as expectativas”, porque essencialmente prática, mas com uma componente teórica, e que se conseguiu, indicou, desmistificar essa biotecnologia de reprodução animal, que é a inseminação artificial com sémen fresco ou refrigerado.

“Todas as estratégias que têm havido no país têm-se baseado na importação de sémen congelado, ou seja, esta é a primeira formação que tenta abordar toda a tecnologia de sémen”, concretizou, desde a colheita no bode, avaliação, diluição e preparação das doses.

Sobretudo, continuou, fresco ou refrigerado, “não exige” outra tecnologia para além daquela que existe a nível comum de um agricultor, que é um frigorífico e algumas pedras de gelo.

“Conseguimos na formação que todos tivessem a oportunidade de, além de participar no processamento do sémen, também fazer inseminação”, sustentou a mesma fonte, para quem “o ideal” seria “alargar, vulgarizar”, a técnica a todos os cantos do País.

Aguinaldo David referiu, no entanto, à necessidade de “algum investimento” de base a nível dos minilaboratórios, como a que já existe em São Vicente, e de mão-de-obra qualificada.

“Tendo já este leque agora formado é uma questão de alargar a formação e ter as condições para a difusão da biotecnologia de forma mais alargada”, sintetizou, explicando que a mesa de diálogo de hoje permitiu “democratizar a técnica” e “desmistificar a ideia” dos agricultores que lidam com a pecuária de a inseminação artificial ser “algo muito distante”.

Por seu lado, o especialista em Biotecnologias de Reprodução Animal na Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, Nestor Chagas, lembrou que “historicamente está demonstrado” que a inseminação artificial é uma técnica de aplicação massiva, a “mais antiga” das tecnologias reprodutivas e com “uma grande aceitação”, porque é “barata, eficiente e de fácil aplicação”.

Para dar uma ideia sobre “a forma positiva” como decorreu o trabalho prático em São Vicente, o professor ironizou que até os bodes colaboraram.

“Utilizamos o processo de recolha de sémen mais fisiológico, que é a utilização da vagina artificial, o que em termos normais pressupõe um treinamento prévio dos machos para aceitar o processo, mas os bodes aqui aceitaram tudo normalmente sem necessidade de treinamento e tudo correu muito bem”, elucidou.

Por isso, sintetizou, trata-se de um processo “muito simples”, a inseminação artificial cervical, com sémen fresco ou refrigerado, que “não obriga a grandes investimentos” em termos de equipamento, até porque o sémen refrigerado tem uma viabilidade de 24 horas e se houver condições de transporte e refrigeração adequadas pode circular por todas as ilhas.

A formação foi realizada no âmbito do projecto “Estruturação da cadeia de ruminantes, fortalecendo os sistemas de produção, agregação de valor ao produto e comercialização”.

O mesmo é cofinanciado pela Agência Regional para Agricultura e Alimentação da CEDEAO (ARAA/CEDEAO) e a Cooperação Suíça e promovido pela AAN e a Associação de Criadores de Curral Tortolho, em parceria com o Ministério da Agricultura e Ambiente, a Câmara Municipal de São Vicente e a Fábrica de Rações dos Amigos da Natureza.

A Semana com Inforpress