O desabafo foi feito à Inforpress pela vice-presidente da Associação Comunitária do Iraque, Natália da Cruz, e para quem o bairro, na zona de Ribeira Julião, deveria ter mais atenção quando o número de habitantes vêm crescendo a olhos vistos e, provavelmente, já deverá ter atingido cerca de 80 famílias.
Natália da Cruz confirmou que o maior problema deste assentamento espontâneo e cuja população desenrasca a vida através da lixeira municipal, é a falta de emprego, isto quando é maioritariamente constituída por jovens, que podem até enveredar pela criminalidade por falta de algo para comer.
“Aqui existem muitos jovens sem trabalho e sentem falta de 50 escudos, se vão à lixeira e não conseguem nada, podem até pensar em mexer em coisa alheia, para terem esses 50 escudos”, explicou, garantindo que nem todos podem ter essa atitude, mas, o “desespero por um pão” pode levar a isso.
Entretanto, a moradora garantiu que em termos de situações de violência e crimes, o bairro é “bem tranquilo” somente com algumas quezilas que podem perfeitamente serem resolvidas entre eles.
Mas, bem mais crítica, apontou o dedo à Câmara Municipal de São Vicente que disse estar a fazer “muito pouco” pela zona, não obstante ter construído uma sentina, que lhes fazia muita falta.
Natália Cruz vai mais longe e questiona a demora em legalizar os terrenos ocupados espontaneamente.
“No tempo de campanha, eles vêm cá e dizem-nos, vai ali e faz uma casinha de tambor, vai lá e podes colocar uns blocos, mas, depois, se tivermos algum terreno e quisermos o legalizar, eles dizem que aqui ainda não tem planta de localização”, lançou, admitindo estarem os moradores de mãos atadas e sem qualquer resposta da edilidade, que “quase nunca” vai ao bairro.
“Somos mesmo abandonados pela câmara, é algo que todos aqui sabem, a câmara municipal não se preocupa connosco”, acrescentou.
O bairro do Iraque, assentamento constituído maioritariamente de casas de lata, detém como única infra-estrutura um pequeno jardim de Infância “Bracinha” da iniciativa da Associação Morabi, que acolhe as crianças da zona durante o dia para evitar que fiquem na rua enquanto os pais procuram o sustento, maioritariamente dos desperdícios achados na lixeira municipal.
Na terça-feira, 14, recebeu uma feira de saúde organizada pela Delegacia de Saúde de São Vicente, Associação dos Diabéticos de São Vicente e VerdeFam, que além de promover rastreios de doenças crónicas, levou ainda géneros alimentícios e vestuários a essa população “muito carenciada”, tal como considerou a médica responsável, Carla Guiomar.
A Semana com Inforpress