Com 34 e 31 anos, respectivamente, David e Inês, decidiram começar a velejar em 2018, ano em que iniciaram a certificação, os treinos e cursos para aperfeiçoamento, mas, a pandemia da covid-19 aguçou-lhes o apetite de ajustarem o estilo para o contacto com a natureza, ao mesmo tempo que trabalham.
“Começamos a olhar para os barcos como uma alternativa, que podíamos velejar e conhecer o mundo, mas, ao mesmo tempo ter o conforto de uma casa e se houver internet podíamos trabalhar, porque trabalhamos em empresas em outros países, trabalhamos remotamente”, explicou, adiantando que o desejo concretizou-se em 2022 quando receberam o catamarã “Nuvem Mágica” do fabricante.
Há um ano começaram a aventura de galgar as águas do mar, no início só em viagens mais perto de terra, e agora ousaram num percurso maior, seguir viagem com a regata mundial ARC+ que partiu das Canárias, passando por Mindelo, onde estará até hoje, em direcção à Grenada (Caribe) numa edição de recorde de barcos, 95 no total.
Também mostrou-se uma oportunidade de conhecer o arquipélago cabo-verdiano, do qual tinham poucas informações, mas, que os surpreendeu bem rapidamente.
“Até agora tenho dado os parabéns a toda gente, porque aqui as equipas são muito trabalhadoras, muito focadas, temos gostado muito. Não é preciso explicarmos muito o que precisamos, basta dizer uma ou duas palavras que aparece alguém para nos ajudar com o motor, com as velas, com a limpeza do barco”, descreveu David Dias, realçando o facto de “nunca ninguém falhar” e de ter apoio sempre a tempo e hora.
Uma prestatividade que, admitiu, o impressionou e o faz ter vontade de ficar e, mais ainda, voltar para conhecer as ilhas todas.
Quanto à experiência de velejar, garantiu estar a ser “muito gratificante”, numa combinação de ´glamour´ dos pôr-do-sol, com a responsabilidade de fazer as tarefas de manutenção e planeamento detalhado de cada viagem.
“Quando estamos no mar, temos dias que as coisas correm de forma brilhante, dias de vela de champanhe como dizem os franceses, mas, se o tempo piora e a ondulação está mais grave e se alguém se sente um pouco mal, ou se algum cabo parte, é nossa responsabilidade estarmos lá para corrigir, antes que aconteça um problema maior”, explicou David.
Inês Pereira, que definiu a parceria com o namorado como uma co-capitania, deixa o recado que os barcos são mesmo para quem gosta de aventuras, até porque, quando em viagem, podem acontecer problemas que não vêm escritos nos manuais, mas que implicam “improvisação” e ouvir conselhos de outros “marinheiros” mais experientes.
No seu caso, mesmo sendo mulher, sexo normalmente em menor número nas equipas de velejadores, tem tentado dirigir os trabalhos e o pessoal, com quem velejam, e até aprender a mexer nos motores, velas e muito mais.
E é esta mesma postura, que disse manter agora na 11ª travessia do Atlântico do ARC+, primeira em que participam, co-chefiando uma equipa de seis membros, na partida de Canárias, e cinco na saída do Mindelo, depois de terem escolhido essa regata precisamente por ter sentido de comunidade.
“Achamos que para atravessar o oceano, seria no mínimo reconfortante saber que existem barcos num raio de 60 milhas à nossa volta e achamos que contribui para o efeito de comunidade, porque nós também podemos ajudar as outras pessoas, caso aconteça alguma coisa no mar”, justificou Inês, satisfeita com relação criada com as outras equipas e com o contacto com a população dos lugares de paragem.
Em jeito de remate, David disse acreditar terem feito uma “boa escolha”, optando por essa possibilidade de conhecer Cabo Verde, particulamente a ilha de Santo Antão, e a cidade do Mindelo, que dizem ser “muito familiar” com Portugal, desde a arquitectura, a Réplica da Torre de Belém, nomes das ruas e dos restaurantes.
“Até tenho pena da ARC nos deixar ficar aqui uma única semana”, lamentou, perspectivando uma próxima viagem por altura do Carnaval, em São Vicente, que lhes foi muito bem falado.
A regata ARC+, que tem partida marcada para depois do meio-dia desta sexta-feira da Marina do Mindelo, segue para o destino final, Marina de Port Louis (Grenada) com as 95 embarcações, 26 de menor porte, os chamados multicascos, 30 por cento (%) mais que no ano passado, e com um terço de catamarãs, barcos maiores, oito deles lançados em 2023.
A Semana com Inforpress