Como o mesmo explicou à Inforpress, esta é uma tradição de longa data que aprendeu com os pais, praticantes da religião católica, e à qual decidiu dar continuidade e hoje preside as mesas de orações aonde houver almas precisadas na sua zona.
Servindo-se de uma mesa, estendida com um pano branco, uma cruz, duas velas, um pincel, um pouco de água benta, António Évora, acompanhado de mais quatro ou cinco pessoas, faz questão de rezar a ladainha durante uma semana após a morte de uma pessoa, com orações que acontecem, normalmente, a partir das 16:00.
“Sempre dou a minha força para fazer a oração nas casas onde houver um morto, para salvar a alma, não só da pessoa que morreu, mas também dos familiares”, sublinhou, adiantando que na lista da reza inclui-se o nome de cada um dos moradores da “casa do morto”.
Chegando ao sétimo dia, acontece o ritual de “Dia de txi cruz” (Dia da descida da cruz, “em português), em que o crucifixo é colocado agora em cima do pano branco e salpicado pela água benta para abençoar e estar pronto para a “oração do sétimo dia”, realizada após uma missa na igreja.
“Acredito que essa tradição mantém a união das pessoas da zona, e também é uma forma de dar força aos familiares, que não vão ver mais a pessoa que partiu, tal como todos nós temos o nosso dia de responder ao senhor Jesus Cristo ali em cima”, considerou, mostrando a sua empatia com a família enlutada e por poder ajudar nessa hora de dor.
Entretanto, além de António Évora, que é carpinteiro naval de profissão e com 56 anos de idade, a localidade de Salamansa já conta somente com mais um presidente das mesas de ladainha, o senhor Armando, um homem já de terceira idade, algo que pode perigar a continuidade da tradição.
Mesmo assim, o carpinteiro diz-se satisfeito por ainda ver jovens interessados pela prática e que apoiam, não propriamente nas orações, mas, na organização dos preparativos e nas tarefas de cozinhar, limpar a casa e outros tipos de apoios que ainda os moradores da vila fazem questão de dar aos familiares que perderam o ente querido.
Ele próprio também tem tentado passar esses ensinamentos aos filhos e que poderão a repassar para as próximas gerações.
A localidade de Salamansa, vila de pescadores situada a nordeste da cidade do Mindelo, é constituída, segundo o presidente da associação comunitária, por cerca de 1.300 a 1.400 habitantes. Um lugar que dizem ter sido criado a partir de uma única família e onde “toda gente conhece toda gente”.
A Semana com Inforpress