Jorge Teme, ex-deputado e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, explicou à Lusa que a coligação vai reunir o seu próprio partido, a Aliança Nacional Democrata (AND), cujo processo de registo ainda não está concluído, e ainda o Partido de Desenvolvimento Popular (PDP) e o Partido Liberta Povo Aileba (PLPA).
“Eu vou liderar a coligação. O meu partido ainda está no processo de registo, mas os nossos militantes vão participar na coligação AD. Fui eu próprio que fiz a aproximação com o PDP e o PLPA para que a coligação possa avançar”, explicou à Lusa.
Tanto o PDP como o PLPA já se apresentaram a votos, tanto sozinhos como noutras coligações, ainda que em nenhum dos casos tenham chegado à barreira mínima necessária para eleger deputados, fixada atualmente em 4% dos votos válidos.
Na atualidade e usando como barómetro os votos válidos das presidenciais do ano passado – o total de eleitores deve aumentar para as legislativas previstas para maio – essa barreira poderá representar cerca de 26 mil votos.
Teme mostra-se confiante, referindo-se aos cerca de 15 mil votos que o PDP e o PLPA conseguiram na votação de 2017 a que se somarão a base de apoio da AND, especialmente no enclave de Oecusse-Ambeno, onde nasceu.
“Sou o primeiro ‘oecusseano’ a fundar um partido político. Tenho muitos simpatizantes e apoiantes que me aconselharam a formar este partido político e que me estimularam para avançar”, explicou.
As três forças políticas reuniram-se em conferência nacional na semana passada em Díli, reafirmando o apoio à liderança de Jorge Teme, com os dirigentes das forças políticas a iniciarem depois encontros de consolidação noutros pontos do país.
Questionado sobre a plataforma política da AD, Teme defende uma “transformação” em áreas chave, destacando setores como a educação, agricultura, infraestruturas, comércio e indústria e a necessária “reforma legislativa e da justiça”, que “não pode ser apenas para o povo, mas tem que ser para todos”.
A AD, explicou, quer que o Governo aloque mais dinheiro ao setor agrícola, “acompanhando os agricultores a saírem da subsistência” para melhorarem a produção e, apostando em alguns produtos e no fator orgânico, conseguir competir com a região.
No setor da educação a aposta é numa reforma do currículo, para “orientar os estudantes para que alguns, quando terminem o secundário, possam criar os seus próprios empregos”.
E, entre outras propostas, considera que os chefes de suco (divisão administrativa) do país deveriam ter carros para poder adequadamente apoiar a população, especialmente nas áreas rurais e mais isoladas.
Até recentemente assessor principal no Ministério das Obras Públicas e hoje “concentrado apenas no partido”, define-se como membro da “geração continuadora”, depois dos líderes fundadores do país, e considera haver uma crescente compreensão sobre “uma nova geração como uma nova dinâmica política para continuar a política e o desenvolvimento nacional”.
Caso eleja deputados, disse, a AD estará disponível para colaborar com o partido mais votado, escusando-se a avançar qual dos dois grandes favorece, a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) – de que foi membro e que está atualmente no Governo – ou o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), de Xanana Gusmão, na oposição.
Membro da Fretilin até 2011, quando saiu para se juntar à Frente Mudança (FM), Jorge Teme foi deputado da Assembleia Constituinte (em 2001), e vice-ministro dos Negócios Estrangeiros no segundo Governo de transição durante a administração transitória da ONU e no primeiro Governo constitucional.
Teme, que viveu e estudou na Nova Zelândia na reta final da ocupação indonésia, onde completou um mestrado em Políticas do Desenvolvimento, foi o primeiro embaixador de Timor-Leste na Austrália, entre 2003 e 2005.
Natural de Oecusse, foi nomeado em 2007 secretário de Estado para esta região do país, durante o 4.º Governo constitucional, liderado por Xanana Gusmão, assumindo funções de secretário-geral da FM.
A FM apresentou-se a votos pela primeira vez em 2012, elegendo dois deputados, tendo Teme assumido as funções de ministro da Administração Estatal, no Governo de coligação entre o seu partido, o Partido Democrático (PD) e o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), de Xanana Gusmão.
Em 2015, com a formação do VI Governo, Teme regressou ao parlamento, como deputado da FM.
Acabou por sair da FM em 2016, tendo apoiado nas eleições de 2017 e 2018 o Partido Libertação Popular (PLP) do atual primeiro-ministro Taur Matan Ruak, a quem comunicou a sua saída como militante para se concentrar agora no projeto da AD.
A Semana com Lusa