De acordo com o relatório financeiro de 2022, a que a Lusa teve hoje acesso, aqueles estaleiros, que operam há 40 anos na ilha de São Vicente e o que Governo pretende privatizar, tinham registado em 2021 prejuízos de 6,1 milhões de escudos (55,3 mil euros) e viram o volume de dívidas aos fornecedores aumentar, igualmente, de 38,3 milhões de escudos (343,8 mil euros) para mais de 51,8 milhões de escudos (465,1 mil euros) num ano.
Já as receitas da Cabnave cresceram quase 8% no ano passado, face a 2021, para 341,4 milhões de escudos (três milhões de euros), essencialmente na reparação de navios cabo-verdianos e estrangeiros. Ainda assim, aqueles estaleiros repararam no total 60 navios (40 de pesca e três cargueiros, entre outros) em todo o ano passado, menos dois face a 2021.
“Pela segunda vez em cinco anos o mercado nacional teve uma maior contribuição para a formação do negócio da reparação naval ao atingir 56,4% do correspondente valor global. Em 2020 já tinha atingido 51,1%, quando tradicionalmente o indicador oscila entre uma taxa a rondar os 20% a 40%”, lê-se na mensagem do conselho de administração no mesmo relatório.
Acrescenta-se que além de Cabo Verde (19 navios), os armadores que mais procuraram os serviços da Cabnave em 2022 foram os provenientes da China (20) e de Espanha (16).
A CV Interilhas, concessionária dos transportes marítimos de passageiros e carga, liderada pelo grupo português ETE, foi o principal cliente da Cabnave em 2022, com um valor faturado de 115,7 milhões de escudos (um milhão de euros), referente a seis reparações em navios.
A Cabnave contava no final de 2022 com 151 trabalhadores e um capital social de 245 milhões de escudos, sendo 98,9% detido pelo Estado cabo-verdiano, estando os restantes 1,11% nas mãos de privados.
Na vertente financeira, o relatório da administração alerta para uma “relevante preocupação” que resulta da “observação do nível bastante baixo a que chegou o valor dos ativos não correntes”, ao cair para 28,1 milhões de escudos (252,3 mil euros), refletindo a “perda de valor do património e a ausência dos necessários e urgentes investimentos no estaleiro”.
“Outro facto a registar é o do montante do capital próprio estar já próximo do valor de 50% do capital social. Também aqui volta a ser relevante a necessidade da realização dos investimentos que, conjuntamente a uma possível reestruturação do pessoal e organização, propiciarão retornos que contrariarão quer a perda de valor dos ativos fixos não correntes, como a do capital próprio”, lê-se.
A administração escreve igualmente que a solvabilidade da Cabnave “continua baixa”, situando-se em 0,9 (1,0 em 2021).
“Em consequência daquele indicador, a estrutura financeira da empresa continua não sendo a desejável, facto que justifica a intenção, que se espera de breve concretização, de uma intervenção com implicações estruturais”, aponta ainda.
O Governo cabo-verdiano afirmou no início de 2019 que estava à procura de privados com capacidade para investir até 12 milhões de euros naquele que é o único estaleiro naval do país.
O processo de privatização, de que não se conhecem mais detalhes até ao momento, está a ser preparado pela Unidade de Acompanhamento do Setor Empresarial do Estado (UASE), do Ministério das Finanças, e o objetivo é encontrar um parceiro "com conhecimento e especializado no setor" para fazer esses investimentos necessários.
A ideia, assumiu o Governo liderado por Ulisses Correia e Silva, passa por fazer com que os estaleiros possam ter "uma dimensão mais internacional".
A Semana com Lusa