Carismático pela forma como interpreta o funaná, este vocalista que se define como “discípulo de Catchás” (Carlos Alberto Martins), o grande guitarrista e mentor do célebre agrupamento musical Bulimundo, celebrizou-se como Zé Mário Bulimundo, agrupamento musical ao qual emprestou a sua voz ao longo de 36 anos.
Para este sábado, 29, data que o artista completa 40 anos como músico, Zé Mário Bulimundo, “alcunha enraizada pelo povo”, prevê um concerto intimista no Bairro Craveiro Lopes, localidade que tem servido de bastião para ensaios do grupo, forma também encontrada pela organização para celebrar os 165 anos da criação da Cidade da Praia.
Quatro anos fora deste mítico conjunto que orquestrou o funaná do interior de Santiago para a sua internacionalização), José Mário dos Reis avançou à Inforpress que já se encontra no estúdio com o seu novo agrupamento e que tudo aponta para o lançamento do single a 15 de Agosto, data em que se celebram as festas da Nossa Senhora da Graça, padroeira desta cidade.
Zé Mário & Banda, segundo avançou, já conta com seis meses de existência, tendo já proporcionado seis espectáculos em todos os concelhos de Santiago.
O grupo conta com executantes de excelência da música tradicional cabo-verdiana e pretende homenagear, a título póstumo, os guitarristas Catchás, Óscar e o vocalista Zequinha, com quem, juntamente com Zeca Nha Reinalda, partilhava o palco.
O baterista Hélder Gonçalves, os guitarristas Manel di Candinho e Lulam, o baixista Edson Dany e Dab’s, no teclado, são os integrantes deste novel agrupamento musical cabo-verdiano, que já se encontra no estúdio para a gravação do “Caminho de Ferru”, álbum com o qual este artista promete “revolucionar” o panorama musical, à base de um repertório com o qual promete sucesso.
A cerimónia de quatro décadas desta marcante carreira de Zé Mário vai ser extensiva aos Estados Unidos da América, onde em Junho tem já marcado uma digressão, no âmbito da sua homenagem pela comunidade cabo-verdiana radicada em Boston, mas a efeméride vai até Dezembro.
Com quatro álbuns gravados, “Êxodo, 1983 nos EUA”, “Compasso Pilon, 1984 em França, (ambos no “reinado” de Catchás) e posteriormente, “Na kal ki bu ta linha», 1990 em França/Holanda, e “Ta Ndera ca ta kai», 1998, na Holanda) todos com os Bulimundo, Zé Mário recorda com muita emoção os anos dourados, desde a altura em que foi testado por “Catchás” para integrar o agrupamento Bulimundo.
Hoje, recorda com nostalgia a forma como se sentiu traído e impedido de continuar a trabalhar para a projecção do grupo com o qual passou belos momentos em países como Portugal, França, Holanda, Luxemburgo, Bélgica, EUA e muitos outros, passando por grandes palcos internacionais.
“Houve muita maldade. Sinto-me traído pela forma como correram comigo dos Bulimundo, o meu Bulimundo, porque o Zeca Nha Reinalda incompatibilizou-se comigo. É duro ser afastado desta forma, muita humilhação”, lamentou, muito emocionado Zé Mário, que não se conteve às lágrimas, afirmando que a cada espectáculo dos Bulimundo, o mundo interroga o porquê da sua ausência.
Recordou que ainda muito jovem foi integrado nos Bulimundo, pois que a sua fama como intérprete de funaná já fazia eco, uma vez que iniciou as suas pisadas com os seus 17/18 anos no “Fidjos de Paiol”, mas que sempre, na companhia do Óscar espreitava os ensaios dos Bulimundo na casa Dona Tita, Casa Tóti (Achadinha Baixo), e Tóti Cabral em Achadinha Riba e que depois imitavam as melodias no seu grupo.
Como desde muito novo decidiu dedicar-se à música, disse que optou por cuidar da sua voz, de tal modo que enalteceu tudo o que aprendeu com o músico e professor vocal, Eutrópio Lima da Cruz, que o fez crescer como cantor.
Ainda assim, gaba-se de ter herdado a sua veia artística na família, pois que a avó, “Nha Bia Jesus Correia”, autora da famosa composição “Batuco nº 2 do álbum “Ta Ndera ka ta cai”, destacava como uma grande cantadeira do batuque.
“Os 40 anos de carreira foram desafiantes e muito duros, mas recheados de sucessos”, finalizou. A Semana com Inforpress